Ludi Aeterni (
Jogos Eternos) para piano, flauta, cenário (baloiço), performance e vídeo.
Menciono, para além de uma relação com as memórias das brincadeiras/ jogos infantis (
Ludi), também a ideia de ficarem guardadas eternamente (
Aeterni) com retornos saudosos que nos conduzem ao imaginário infantil das experiências vivenciadas e às memórias de um passado que se revive quer participando e retomando fisicamente ou unicamente sendo um espectador.
Foram selecionadas partes de peças de Bela Bartók e John Cage, e de forma retalhada e ‘reorquestrada’ integraram-se num discurso pessoal composicional funcionando como pilares de uma construção musico-teatral com uma componente cíclica, que se relaciona com a repetibilidade das vivências do ser humano e dos ‘jogos’ infantis que se reproduzem e evoluem de dia para dia, aparecendo quase impercetivelmente na paisagem/discurso com o vento assobiado e ruídos das correntes do baloiço a chiar quando se aciona, para a frente e para trás num parque infantil.
O baloiço, elemento essencial de ligação das várias secções, funciona como leitmotiv, apesar de ‘orquestrado’ diferenciadamente: o 1.º aparecimento acompanhado pelo som imitando o vento, o 2.º unicamente com a movimentação agressiva, 3.º e final, ficando a solo acompanhado pela iluminação que se apaga lentamente e uma imagem em movimento/filme de um parque, que continua a prolongar essa memória, não presencial mas guardada numa ‘gravação’ intersectando com o real. Marca o tempo como um relógio, mantendo o ritmo de vida do discurso musical e performance total. O seu movimento e balançar regular ou não funciona como ‘gesto’ teatral e ‘musical’ transpondo a sua fisicalidade, movimento e sonoridade ao balançar para uma ‘sonoridade’ utilizando o sopro e assobio na flauta.
O duo funciona como dois participantes num Ludus/Jogo, intercalando várias formas de organização dos parâmetros totais da escrita/performance musical e teatral tornando-se num trio quando o baloiço intervém com o seu movimento solitário, pendurado com correntes, todavia, com um movimento diferenciado e mais agitado e complexo, quase descontrolado na secção central climática da peça, com o enrolar e desenrolar em si mesmo das correntes, entre o giratório e atabalhoado. Enlaçar e Desenlaçar, torcer, complicar e resolver.
Aliado ao discurso musical está a performance, cenário e filme, que se ligam transversalmente: presenciamos a movimentação da flautista, deslocando-se da sua posição para um lugar secundário. Também no final da peça irá ‘jogar/tocar’ junto da pianista, saindo estas de cena e sendo fechada a tampa do piano.
Patrícia Sucena de Almeida