Augurium #1 presságio
‘desguised quotations’
Desguised: to modify the manner or appearance
Quotation: reference or allusion
From Olivier Messiaen
Peça para piano solo, com provável proliferação para outros trabalhos,
augurium#1, e que surgiu da pesquisa da obra de Olivier Messiaen, estando integrada num projeto intitulado Trio de Damas que visa homenagear três pianistas portuguesas de suma relevância no panorama cultural do séc. XX: Helena Sá e Costa, Nella Maíssa, Olga Prats. Vários são elementos que funcionam como fontes de impulso inspirador e sonoramente explorados – paisagem (íngreme, esculpida com picos e blocos de pedra), o voo dos pássaros (rápido e leve), o canto dos pássaros (nas suas variantes), o grito trágico (agressivo) e o canto do anjo (etéreo). Constrói-se uma ‘paisagem’, com uma organização formal dividida em 7 seções com o ponto de chegada climático na 5ª secção: seção 1, insere-se o canto do anjo e o grito na ‘paisagem’, secção 2, surge o canto dos pássaros, secção 3, novamente a ‘paisagem’ íngreme, esculpida com picos e blocos de pedra com a interseção do canto dos pássaros, secção 4, o ponto de chegada climático, 5ª secção, com o voo dos pássaros rápido e leve e o grito trágico agressivo que se repete e desenvolve em relação ao seu aparecimento na 2ª secção, novamente a reposição da secção 4, agora secção 6, e o final com dois retalhos do canto dos pássaros e o voo final, secção 7.
Nas páginas prévias à partitura são utilizadas duas citações, como vem sendo hábito, e que de alguma forma surgiram como complemento às várias fontes de impulso inspirador referidas anteriormente, e que funcionam como ‘portas’ para possíveis ‘interpretações’ de
augurium.
“...de tempos a tempos encontramos um deles (pássaro), com uma asa quebrada, a odiar-nos no chão...” António Lobo Antunes,
Diccionario da Linguagem das Flores
“J'ai souvent pensé alors que si l'on m'avait fait vivre dans un
tronc d'arbre sec, sans autre occupation que de regarder la fleur du
ciel au-dessus de ma tête, je m'y serais peu à peu habitué. J'aurais
attendu des passages d'oiseaux ou des rencontres de nuages...”
Albert Camus,
L’étranger (1942)
Patrícia Sucena de Almeida