Orquesta de la Comunidad de Madrid, Pedro Carneiro (percussão), Santiago Serrate (direcção)
Local Auditório Nacional
Localidade Madrid
País Espanha
Notas Sobre a Obra
Tratando-se inicialmente de um Concerto para marimba e orquestra, Cassiopeia acabou por se transformar numa obra para orquestra, percussão amplificada e electrónica, onde a marimba tem um papel fundamental, quase concertante, juntamente com o vibrafone e outros instrumentos que são interpretados pelo solista. Esta sonoridade de primeiro plano é reforçada por mais quatro percussionistas que se desdobram por diversos instrumentos.
A ideia principal parece ser inspirada na constelação de Cassiopeia, situada a Norte, com a sua configuração inconfundível em forma de M ou W, cujo desenho o autor reproduz na página de rosto da partitura como um guião de referência para o plano geral da obra. O mundo das estrelas e a sua localização no firmamento foi objecto de observação por parte de compositores contemporâneos, nomeadamente por aqueles que se destacaram no tratamento dos instrumentos de percussão. Assim, não é de estranhar que João Pedro Oliveira partilhe da visão do compositor japonês Toru Takemitsu, que escreveu uma obra para percussão e orquestra com o mesmo título, em 1971. Partindo de uma linguagem contida e abstracta, nunca descritiva, o autor estabelece uma analogia sonora da constelação, que se pode adivinhar nos traços da partitura, nas suas dinâmicas e linhas que, com diferentes alturas e timbres, se vão sucedendo e sobrepondo, criando, assim, um ambiente espacial e misterioso através de notas longas e ligadas, glissandos, a sucessão muito rápida de notas quase arpejadas e de sons harmónicos.
Apesar do claro protagonismo da percussão, e a respectiva exuberância sonora que isso comporta, o plano geral da obra responde a uma poética contida, cujos recursos expressivos estão ao serviço da ideia motriz do discurso musical, isentos de qualquer grandiloquência ou retórica. A fita magnética, por outro lado, actua na obra como mais um elemento cujas sonoridades, indicadas em altura e duração, contribuem para o carácter celeste da partitura. Cassiopeia é dedicada aos pais do compositor e foi encomendada pelo percussionista e solista que escutaremos hoje, Pedro Carneiro, e pela Casa da Música.