Percurso
formativo e influências
A família marcou-me muito, sem dúvida… desde tenra
idade que os amigos me marcaram, mas sobretudo a família… e o facto de ter
entrado e ter começado a frequentar o Conservatório muito cedo, aos cinco anos
ou por volta dessa idade. Na altura, o Conservatório Regional de Ponta Delgada
tinha uma profunda ligação ou uma ligação muito estreita ao Conservatório
Nacional. O facto é que nós nos matriculávamos no Conservatório Nacional e
depois os exames eram feitos com Professores do Conservatório Nacional que se
deslocavam a Ponta Delgada para examinarem lá os alunos.
A família do meu pai também tocava (a minha avó
tocava) mas a família da minha mãe teve mais influência… os meus tios gostavam
muito de fazer música e faziam-no de uma forma natural e em conjunto, embora
fizessem música ligeira. Faziam-no de facto, com muito gosto e isso contaminou,
de certa maneira, os sobrinhos e, enfim, todas as crianças que por ali
circulavam. Já aos 8 anos lembro-me de tocar em grupo com os meus primos,
portanto era uma coisa que fazíamos muito naturalmente.
O meu instrumento foi sempre o piano, embora nos
Açores tenha tocado Viola da Terra, um instrumento que é uma espécie de
guitarra, com cordas dobradas é típico de S. Miguel.
Depois disso, entrei para o Conservatório que
frequentei sempre o Conservatório enquanto estive em Ponta Delgada, em São
Miguel. Fiz toda a minha formação musical lá: Acústica, História da Música e
parte do Piano. Depois vim para Lisboa já com 22 anos e então cá completei a
minha formação. Estudei piano com o Miguel Henriques, logo desde o início e
estudei muito; ou seja, se toco piano, em grande parte, devo-o a ele. Foi na
Classe dele que realmente me dediquei a fundo ao piano, com um estudo muito
organizado, muito disciplinado. Isso permitiu-me, efectivamente, aprender a
tocar piano a sério, digamos assim. Paralelamente ao estudo do piano, comecei
por frequentar a Escola Superior de Música, na Classe do Prof. Bochmann, do
Prof. Álvaro Salazar, da Constança Capdeville, aulas essas que me marcaram
muito e que vieram completar a minha formação numa área de que eu gostava muito
e que me interessava muito: a área da composição. E nessa altura, como agora,
era difícil dissociar o que me levou para a composição, o que me levou para o
piano ou o que me levou para a música, em geral.
Sempre me foi difícil destrinçar ou distinguir
aquilo que me motivava a sentar-me ao piano e tocar, daquilo que me motivava a
sentar-me ao piano e compor, pelo menos quando era miúdo… Digamos que para mim
era o mesmo gesto ou a mesma vontade, se quisermos. E portanto, dei por mim a
estudar composição da forma mais natural possível, da mesma maneira que podia
dar por mim a estudar piano como algo que sempre fiz e que sempre foi parte
integrante da minha vida.
Indo à Escola Superior de Música, ao Ensino da
Composição e às pessoas que me marcaram e aos percursos... houve uma pessoa que
me marcou muito logo no início: a Profª Margarida Magalhães de Sousa. Era
Professora de Harmonia e uma belíssima pianista e ensinava piano e Harmonia com
uma facilidade e com uma naturalidade absolutamente contagiantes. As aulas de
Harmonia dela eram uma delícia… a forma como ela explicava um coral de Bach,
como estabelecia analogias, como inclusivamente, às vezes fazia trocadilhos com
as palavras; mas tudo aquilo era contagiante pela facilidade com que ela
transmitia os seus conhecimentos. E lembro-me de vê-la preparar recitais e lia
e tocava muito bem, o que não é normal. Geralmente, quem lê com grande
facilidade e prepara e monta peças muito rapidamente, nem sempre depois tem uma
performance à altura dos solistas. Ela não! Conseguiu combinar bem isso e
fazia-o com muita facilidade. Contagiou-me e ensinou-me como é que se lida com
a música de uma forma simples, despreocupada e íntima, como se trata a música
como se fosse algo que nos é absolutamente familiar, sem elucubrar demasiado e
sem criar grandes complicações com isso.
Houve três pessoas que me marcaram, sem dúvida
nenhuma… O Prof. Bochmann, pelas suas aulas, pela Análise sobretudo; ou seja, o
que eu aprendi em termos de composição, de técnica composicional e se há algum
professor com quem eu aprendi técnica foi, sem dúvida, com o Prof. Bochmann e
durante os anos em que estive com ele. O Prof. Álvaro Salazar também… depois do
Curso, estive na Classe de electroacústica do Prof. Álvaro Salazar que estudou
em Paris com o Pierre Schaeffer. E era a Cadeira que ensinava na Escola
Superior de Música, na altura. Depois de terminada a Escola Superior de Música
ele foi efectivamente, uma pessoa que me deu várias oportunidades,
inclusivamente através da “Oficina Musical”. Encomendou-me duas obras e se eu
tive alguma projecção como compositor nos últimos anos, devo-o a ele.
Ao Miguel Henriques devo, efectivamente, o facto de
ter conseguido tocar piano, alguma vez ter tocado bem, entre aspas, mas ter
tocado piano a sério, digamos assim, de uma forma normal, como se deve tocar,
de uma forma competente.