Compositor e investigador doutorando na FCSH/ Kunstuniversität Graz/ Fondazionne Archivio Luigi Nono e membro do Concrète [Lab] Ensemble, João Quinteiro está Em Foco no MIC.PT em março.
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Música de câmara (de 2 a 8 instrumentos)
com electroacústica sobre suporte
Instrumentação Sintética
1975
32' 00"
2 Órgãos Electrónicos e Electroacústica sobre Suporte
2 Órgãos Electrónicos e Electroacústica sobre Suporte
Título do documento 73 Oeldorf 75 - I
Data de Composição· 1975
Dedicatória
Peter Eötvös
Meios de Produção Electroacústica
3 Fitas Magnéticas Stereo ou Fita de 8 Pistas
Instrumentação Detalhada
Categoria Musical Música de câmara (de 2 a 8 instrumentos)
com electroacústica sobre suporte
Instrumentação Sintética 2 Órgãos Electrónicos e Electroacústica sobre Suporte
Estreia
Data 1975
Intérpretes
Mesias Maiguashca (órgão), Peter Eötvös (órgão)
Localidade Oeldorf
País Alemanha
Notas Sobre a Obra
Quando, durante o Verão de 1975, decidi compor um ciclo de obras compreendendo algumas peças escritas a partir do Inverno de 1973, encontrei-me perante um vasto material electrónico, o das fitas magnéticas para Fermata, Voyage du Corps e Ruf.
O conjunto deste material apresenta entre si um profundo parentesco que ultrapassa largamente os aspectos técnicos das manipulações electrónicas utilizadas, para ir até o que eu chamaria "uma complementaridade de relações harmónicas", que de resto está presente na totalidade das 10 peças instrumentais e vocais que integram o ciclo. Este corpo electrónico levou-me a compor uma obra para 3 bandas magnéticas e 2 órgãos electrónicos, sendo o conjunto difundido por seis altifalantes que rodeiam o público.
Oeldorf é uma aldeiazinha perto de Colónia, situada em pleno campo renano, onde existe um estúdio electrónico. Foi aí que elaborei as fitas magnéticas sob a direcção técnica de Peter Eötvos e David Johnson.
As 3 fitas de 73 Oeldorf 75 não correspondem exactamente às das obras antes mencionadas. São, no seu conjunto, o resultado de uma composição espacio-temporal em mosaico de 13 sequências distribuídas pelos 6 canais das 3 fitas magnéticas estereofónicas. Não se trata, de modo algum, de um trabalho de colagem, processo a que não adiro.
Na sequência do meu trabalho docente, pontual mas regular, na secção de música da Universidade de Pau, no âmbito dos cursos de Marie-Françoise Maneveau, decidi compor 73 Oeldorf 75 II para 6 grupos de vozes mistas (sendo cada grupo escrito a 3 vozes reais) e as mesmas 3 fitas magnéticas. As vozes não sofrem qualquer amplificação ou transformação por processos electrónicos. Tratava-se, para mim, de compor uma peça tão pessoal como qualquer outra, mas onde a totalidade do trabalho de composição devia prosseguir um fim pedagógico directo. Este trabalho pode ser descrito do seguinte modo: um grupo de estudantes assistia à concepção e à escrita da partitura na sua integralidade.
Como únicos elementos pré-existentes tínhamos as 3 fitas magnéticas e o conjunto do material de partes de órgão da 1.ª peça, que fui abandonando progressivamente até metade da partitura vocal, ao mesmo tempo que, logo desde o início, introduzi elementos novos. Não se tratava de fazer uma transcrição. Assim, comprometi-me a não preparar nada fora dos seminários. No decorrer destes eu tinha de compor diante dos estudantes, explicando sempre a razão do que em cada momento estava a fazer. Deste modo, o trabalho realizou-se em dois seminários de três dias. Apenas alguns aspectos da organização das intensidades e do tratamento dos textos ficaram para ser terminados mais tarde, devido à falta de tempo.
Em 73 Oeldorf 75 encontram-se integrados elementos que pertencem a três obras de Schubert: a última canção do ciclo A Bela Moleira (A canção de embalar do rio), as partes extremas do Andante da Sonata para Piano D. 960, e a primeira parte do Adagio do Quinteto para Dois Violinos, Viola e Dois Violoncelos, D. 956. Estes elementos não figuram, porém, como citações clássicas, nem são trampolins para uma composição "à la manière de...". Na impossibilidade de descrever aqui integralmente o processo composicional da sua integração (que seria talvez o único meio de evitar os mal-entendidos próprios de certos tipos de considerações para-estéticas), direi simplesmente que a presença e a metamorfose destes elementos, ao longo da obra, correspondem à expressão sonora duma audição assumida subjectivamente até às últimas consequências, e por isso totalmente despojada de contingências históricas.
Os textos derivam de três fontes diferentes, tratados em mosaico, tal como fiz para as fitas magnéticas: Poema da Canção - Poema do século XVII alemão - excertos de um poema de Gisela Fischer sobre Oeldorf, que me foi enviado pouco antes da composição da obra.
Emmanuel Nunes