Categoria Musical Música de câmara (de 2 a 8 instrumentos)
Instrumentação Sintética Tenor, Trompete e Órgão
Estreia
Data 2000/Oct/22
Intérpretes
Nicolas Robertson (tenor), David Staff (trompete), David Cranmer (órgão)
Local Convento de Mafra
Localidade Mafra
País Portugal
Notas Sobre a Obra
Esta peça resulta de uma encomenda do IV Festival Internacional de Música de Mafra num convite que me foi endereçado pelo seu director artístico, Dr. David Cranmer, no princípio do Verão de 2000, e a quem a obra é dedicada. Tive, assim, a oportunidade única e preciosa de escrever para um conjunto instrumental não muito frequente nos tempos que correm, a saber, tenor, trompete em dó e órgão. Acresce o facto para mim muito estimulante de escrever para um dos maravilhosos órgãos da basílica de Mafra, um órgão histórico num lugar histórico que para mim se constitui como verdadeiro ícone nacional.
A honra é muita e o tema proposto, o solene hino em honra do Espírito Santo “Veni Creator Spiritus”, criou uma harmoniosa comunhão de elementos que muito me tiveram motivado no mês de Agosto durante o qual pensei, planeei e escrevi a obra que agora se cria. O texto é muito inspirador, senão atente-se nesta tradução livre do latim original:
“Vem, ó Espírito Criador,
A mente dos teus visita
E os peitos que criaste
Enche de graça infinita
Tu paráclito és chamado
Do excelso Deus doação
Fogo, caridade, fonte
viva, espiritual unção
Tu com septiforme graça
Dedo és da dextra paterna,
Promessa do Pai, que às línguas
Dás força da voz suprema
A nossa mente ilumina
Teu amor no peito infunde
Firma um perpétuo esforço
Onde a fraqueza redunde
A Deus Pai se dê glória
E ao Filho ressuscitado
E a Ti, Paráclito também
Com louvor perpetuado.
Amen
Este texto de palavras tão sonoras quanto os sinos de Mafra, tem uma energia dinâmica de um foguetão. Inspirador! A leitura que lhe faço é, ao invés do Mahler esmagador em mi bemol maior de sua 8ª sinfonia, verdadeiro foguetão sinfónico, a leitura que lhe faço é, como dizia, íntima, singela, quase monódica. Os timbres aflautados, a monodia gregoriana filtrada pela harmonia do 2º modo de transposição limitada, os paralelismos, o “amen” final evanescendo-se no éter harmónico dos agudos dão à minha leitura um carácter imperturbável, quase hipnótico, tendo eu entrevisto em recolhida oração mais do que um Torquemada exaltado, uma Santa Teresa em êxtase. Ibérico, ainda assim e em ambos os casos.
Esta peça lembra também o meu querido amigo desaparecido em Julho de 2000, o ilustre professor João Pinheiro, meu colega na Escola Superior de Música de Lisboa e mais recentemente na Academia Nacional Superior de Orquestra, mestre incomparável que deixou frutos perenes de sua imensa ciência pedagógica nos mais graúdos e contagiante inspiração nos mais miúdos. Partiu, ficando.
Eurico Carrapatoso, 22 de Outubro de 2000
Encomenda
Data 2000
Entidade Festival Internacional de Música de Mafra / IPPAR - Instituto Português do Património Arquitectónico