António Pinho Vargas apelidou esta revisão de Geometral 2
Observações
Orquestra dividida em 5 grupos
Instrumentação Detalhada
Categoria Musical Orquestra
Instrumentação Sintética Orquestra
Estreia
Data 1989/May/13
Intérpretes
Orquestra Gulbenkian
Michel Tabachnik (direcção)
Entidade/Evento 13os Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea
Local Fundação Calouste Gulbenkian - Grande Auditório
Localidade Lisboa
País Portugal
Notas Sobre a Obra
A ideia
A primeira ideia partiu do desejo de restringir o mais possível um dado material, trabalhando e retrabalhando os mesmos objectos musicais de acordo com diversos pontos de vista. Esses pontos de vista foram entretanto reduzidos a apenas quatro.
A primeira peça, "Mobile-Imobile", que foi a última a ser escrita, utiliza dois desses pontos de vista: um tipo de material estático contra um gesto teatral e, na secção central, a quase completa desintegração do ciclo de acordes utilizado como material básico.
Na segunda peça, "Groups", o desenrolar harmónico, tratado como uma polifonia de grupos do tipo hoquetus, é trabalhado de acordo com um único ponto de vista: o uso sistemático de grupos instrumentais como componenente estrutural.
A terceira peça, "Pulse", tenta dar forma e contorno a uma pulsação contínua de semicolcheias e criar o maior contraste possível, com outros processos, dentro dessa severa restrição.
A composição
O ciclo de acordes foi obtido a partir de uma série de restrições: 1) O total cromático foi reduzido a oito notas; 2) Foi feita uma análise estátistica das possibilidades harmónicas e intervalares da oito notas: quantos acordes perfeitos, quantas segundas menores, maiores, etc.; 3) Escrevi um cantus-firmus a quatro partes com esse material; 4) Este cantus-firmus de acordes foi organizado ritmicamente e sofreu outras transformações (cânone a oito partes, transposições, etc.).
A este cantus-firmus dei o nome de Geometral, um conceito usado pelo historiador francês Paul Veyne. O "Geometral" foi usado de várias maneiras como objecto global na composição da obra, mas nunca é ouvido enquanto tal durante a peça.
Por exemplo, na peça "Groups" o desenrolar harmónico foi deduzido de leituras back and forward ora do ciclo original ora do cânone transposto.
Na peça "Pulse", dois determinados débitos melódicos foram deduzidos de leitura em diagonal através do cantus-firmus e do seu cânone, uma espécie de projecção externa de parâmetros virtuais. A organização melódica da peça deriva de leituras globais ou parciais das formas originais, retrógradas ou inversas dessas duas linhas e das suas transposições.
Na peça "Mobile-Imobile", duas zonas restritas do ciclo harmónico foram objecto de dois tipos de trabalho composicional.
Talvez se possa afirmar que, durante a composição da obra, o inorgânico ciclo de acordes deu origem ao orgânico: a peça.
No final a peça foi submetida a uma grelja de mistakes, uma dimensão de surpresa e liberdade aplicada ao material estruturado.
A peça foi composta entre Dezembro de 1987 e Novembro de 1988. O efectivo instrumental foi dividido em 4 grupos distribuídos espacialmente, 2 homogéneos (metais e teclados) e 2 heterogéneos (madeiras e cordas divididos mais ou menos de acordo com critérios de tessitura).
As notas explicativas duma peça são impotentes para além da descrição abstracta de alguns processos utilizados. A poiética não substitui a poética, e a capacidade ou a disponibilidade de captar a patina que recobre uma obra, é eminentemente subjectiva.
António Pinho Vargas
Encomenda
Data 1988
Entidade Fundação Calouste Gulbenkian - Serviço de Música
