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Sond'Ar-te Electric Ensemble


Sond'Ar-te Electric Ensemble

Com um percurso de quase uma década, o Sond'Ar-te Electric Ensemble é um agrupamento que dá primazia ao fomento e interpretação da música de pesquisa e de invenção do nosso tempo e que aposta num repertório com integração de meios electroacústicos - é esta a sua maior singularidade tanto em termos nacionais como internacionais.

Desde a sua fundação em 2007, o Sond'Ar-te Electric Ensemble fez mais de 40 encomendas de obras a compositores portugueses, contribuindo activamente para a internacionalização da música portuguesa da actualidade. Somente na temporada de 2015/2016 apresentará 12 obras em estreia absoluta, 4 das quais foram recentemente estreadas no Festival Música Viva 2016. Ainda este ano serão lançadas 2 novas edições fonográficas com música de compositores portugueses e em curso está o Concurso de Composição de Música de Câmara com electrónica, já na sua 6ª edição e em Setembro próximo terá ainda lugar o Fórum Internacional de Jovens Compositores do Sond’Ar-te Electric Ensemble, assumindo um papel dinamizador e motor de um laboratório de criação musical no cruzamento de instrumentos acústicos, electrónica e frequentemente outros meios audiovisuais.

No mês de Junho o Em Foco é assim dedicado a este agrupamento que se tem afirmado no panorama português e internacional com uma dinâmica artística, interpretativa, editorial e pedagógica fora do comum, acompanhando as recentes tendências da história musical contemporânea e continuando a “sondar” novos caminhos.


Especificidade e genealogia

As razões e a necessidade da singularidade do Sond’Ar-te Electric Ensemble, a saber a integração de meios electroacústicos com os instrumentos acústicos, justificam-se também pelas recentes tendências da história musical contemporânea. Do mesmo modo que o desenvolvimento da grande orquestra sinfónica, como paradigma, esteve intimamente ligado ao repertório europeu do século XIX, o repertório da segunda metade do século XX suscitou o aparecimento de um paradigma contemporâneo mais restrito e não menos caracterizante: o “ensemble”. De facto, desde finais dos anos sessenta, os meios musicais internacionais registaram, à escala mundial, a constituição de numerosas variantes de ensemble, adaptadas às especificidades sócio-culturais dos meios onde se integram. Assim, neste começo do século XXI, seis décadas volvidas sobre o final da Segunda Grande Guerra, que assinala um momento de viragem na história da música ocidental, do mesmo modo que a “orquestra”, como instituição, continua a constituir o veículo fundamental na perpetuação dos repertórios que lhe deram origem (Clássico e Romântico), o “ensemble”, nas suas múltiplas configurações, impôs-se como instrumento basilar na interpretação do repertório contemporâneo.

As instituições surgem sempre várias décadas após o início da formação dos repertórios que as suscitam: o alargamento das orquestras ao nível sinfónico é posterior aos primeiros exemplos de repertório sinfónico, assim como a grande vaga de constituição de ensembles, nos anos setenta e oitenta do século XX, surge duas a três décadas após o começo do repertório de ensemble. Do mesmo modo, as décadas de oitenta e noventa, que assistiram à generalização da informática musical com a consequente democratização dos meios electroacústicos, alargaram de modo decisivo as noções de escrita musical, suscitando uma quantidade crescente de repertório misto que, por sua vez, impõe uma modificação sensível no paradigma instrumental e organizacional. Em termos internacionais, os ensembles têm procurado adaptar-se a este novo contexto decorrente da mais recente evolução histórica, estabelecendo, para cada projecto, parcerias com estúdios, laboratórios musicais ou centros tecnológicos. O ensemble, como instituição, torna-se polivalente, tentando abranger os repertórios instrumentais que estiveram na sua origem, e os repertórios mistos que entretanto ocupam um lugar fundamental e cada vez mais determinante na criação musical contemporânea.

É neste contexto que surge o Sond’Ar-te Electric Ensemble, que se constitui assim, desde a sua origem, especificamente vocacionado para a interpretação deste novo repertório, sendo um pioneiro neste domínio em termos internacionais – do mesmo modo que o foram, como ensembles instrumentais “puros”, a London Sinfonietta, em finais dos anos sessenta, ou o Ensemble InterContemporain, em meados dos anos setenta.

Objectivos

Se por um lado a constituição do Sond’Ar-te Electric Ensemble é suscitada por uma exigência histórica premente, por outro lado os seus objectivos e ambições concretas passam também por fazer história, não apenas interpretando o muito repertório já existente, mas estimulando novas obras e novas modalidades de interacção entre os meios electroacústicos e os meios instrumentais. Neste âmbito, é fundamental realçar a parceria entre o Sond’Ar-te, como ensemble, e o Miso Studio como laboratório e estúdio de realização electroacústica, cujo trabalho de investigação e informática-musical desenvolvido nas últimas décadas vem proporcionar os meios tecnológicos necessários à execução exemplar de um repertório exigente.

Esta parceria funda, aliás, a própria génese do projecto, na medida em que as duas instituições, faces complementares de uma só e mesma moeda, serão dirigidas por um único director artístico – o que permite uma adequação perfeita e harmoniosa entre realização em estúdio e apresentação em concerto, entre composição e difusão.

É através desta dupla vertente do projecto, tomado na sua globalidade, que o Sond’Ar-te, tem desenvolvido os seus quatro objectivos fundamentais:

a) estimular o meio composicional português, através de uma política sustentada de encomendas de obras mistas (tal é a especificidade deste projecto), oferecendo aos compositores portugueses as melhores condições de realização electroacústica e sucessiva apresentação das suas obras em concerto.

Neste ponto, sublinha-se a necessidade de criar um novo paradigma, segundo o qual, as obras não devem ser apenas estreadas e imediatamente abandonadas: devem, pelo contrário, fazer parte de um repertório permanente que, sempre que possível, deve ser retomado e amadurecido, melhorando de cada vez a excelência das interpretações. Salienta-se ainda a necessidade continuada de fazer circular, em Portugal, obras mistas importantes do repertório internacional: o contacto com a diversidade técnica e estética sendo decisiva para o desenvolvimento de um novo repertório.

b) estimular o desenvolvimento específico do repertório misto que, em Portugal, é ainda relativamente escasso em relação aos países europeus mais desenvolvidos, entre os quais teve o Sond’Ar-te a ambição de se colocar no espaço de uma década.

Note-se que esta relativa escassez de repertório misto, no nosso país, se prende, historicamente, com uma razão infra-estrutural: a quase ausência de pólos de pesquisa e estúdios de realização electroacústica. Neste sentido, estados como a França, a Alemanha ou a Itália ofereceram aos seus compositores meio século de avanço(!) em termos de condições de trabalho – com todas as consequências estéticas que daí advêm. É esta grave lacuna histórica – contra a qual se insurgia, há mais de trinta anos, sem sucesso, uma figura tão determinante como Jorge Peixinho – que o projecto Sond’Ar-te/Miso Studio, como duas faces de uma mesma moeda, de um fluxo contínuo entre realização e interpretação, vem agora colmatar.
Acrescenta-se ainda, neste quadro, um objectivo pedagógico: dar aos jovens compositores ainda em formação, através de um sistema de parcerias com as instituições de ensino, condições de uma primeira abordagem e experimentação electroacústico-instrumental.


c) implementar uma prática de internacionalização do repertório português, que, em grande parte continua à margem dos grandes centros musicais europeus e mundiais. Apostando, ao mesmo tempo, nas condições de criação musical, oferecendo aos compositores portugueses uma integração ideal das suas necessidades de trabalho, e, por outro lado, a excelência técnica e artística das interpretações, assumindo-se o Sond’Ar-te como veículo privilegiado da difusão do repertório nacional nos circuitos internacionais dos quais a música portuguesa continua em grande parte ausente.

d) Assegurar uma interpretação que assenta numa sonoridade própria e numa metodologia de trabalho próxima dos compositores, que lhe permite desenvolver a homogeneidade técnica e artística fundamentais ao patamar de excelência com que o projecto se afirma.

Encomendar para estimular a criação

O Sond’Ar-te Electric Ensemble nasceu em 2007. Desde a sua criação, sob a direcção artística de Miguel Azguime, o ensemble juntou à sua volta uma série de músicos, maestros e compositores, com a consciência de que seria na ligação estreita entre diferentes criadores que um projecto artístico deste tipo teria capacidade de cumprir os seus objectivos.

O repertório do Sond’Ar-te Electric Ensemble cobre algumas das mais importantes obras para ensemble dos séculos XX e XXI entre 5 e 8 instrumentos. Mas na sua actividade tem um peso extremamente significativo a encomenda de novas obras a compositores actuais, encorajando o forte e vibrante desenvolvimento da música contemporânea de câmara com electrónica a que se tem assistido nas últimas décadas. O agrupamento dá uma especial atenção à criação portuguesa actual, assumindo-se como um ensemble que pretende estimular e defender a possibilidade e a liberdade da criação musical artística em Portugal.

Inúmeras encomendas têm sido feitas pelo Sond’Ar-te Electric Ensemble, mais de 40 até 2015, abordando perspectivas estéticas diversas e contextos distintos de apresentação pública, desde as obras destinadas ao público infanto-juvenil até às investigações mais avançadas em termos instrumentais e electroacústicos, passando pela música cénica e nas relações texto-música com a inclusão de escritores portugueses e internacionais de referência, de Camões e Shakespeare a Joyce, Herberto Helder, Carlos de Oliveira, etc.

Edição fonográfica

Em termos de edições fonográficas o Sond’Ar-te Electric Ensemble tem sido igualmente exemplar com 3 volumes editados que incluem parte significativa das obras encomendadas e ainda uma extraordinária edição de um Cadavre Exquis com miniaturas de 30 compositores portugueses da actualidade.

Entre os projectos de edição fonográfica que terão lugar em 2016, estão dois discos: um CD com obras de teatro musical incluindo peças de João Madureira, Miguel Azguime, Pedro Rebelo e dos jovens Daniel Martinho, Sofia Sousa rocha e Ângela da Ponte. Um segundo disco será igualmente editado este ano com interpretações de obras recentemente encomendadas pelo Sond’Ar-te a Ricardo Ribeiro, Bruno Gabirro e Patrícia Sucena de Almeida e ainda obras de Isabel Soveral, Eduardo Luís Patriarca, José Luís Ferreira e Paulo Ferreira Lopes.

O fórum de jovens compositores e o concurso internacional Para além da encomenda de novas obras e da sua edição, o Sond’Ar-te Electric Ensemble tem vindo a articular uma série de iniciativas que passam por outros caminhos. Um deles é a realização de concursos destinados a promover a criação musical em Portugal e no mundo para formação camerística com meios electrónicos. Ao mesmo tempo, o Sond’Ar-te tem realizado concertos comentados e desenvolvido projectos pedagógicos de diversa índole. Por um lado, ao nível da formação, promovendo um Fórum de Jovens Compositores, que se realiza desde 2011 (e terá este ano a sua 4.ª edição), e que inclui ensaios abertos do ensemble, sessões de análise musical, workshops e masterclasses de composição, de interpretação e de trabalho com electrónica em tempo real. Dando a conhecer meios técnicos de composição e interpretação para promover uma melhor realização artística por parte de novos compositores, em diálogo com intérpretes, técnicos e outros criadores. Este Fórum destina-se a compositores até aos 35 anos, no sentido de promover uma formação avançada para compositores jovens e estimulá-los a compor também música mista para este tipo de formação. A ideia é, ao mesmo tempo, incentivar a criação e a circulação de novas obras musicais, permitindo que os compositores apresentem as suas obras em público. Os compositores têm ainda oportunidade de trocar ideias entre si, com os intérpretes e com o público, numa forma de funcionamento que se aproxima da lógica de um laboratório de criação. Este ano, o 4.º Fórum Internacional de Jovens Compositores realizar-se-á entre 13 e 17 de Setembro de 2016 e terá a participação do compositor argentino Francisco Uberto (que esteve em residência entre Setembro de 2015 e Fevereiro de 2016 no Laboratório de Criação Electroacústica do Miso Studio) e os compositores portugueses Jaime Reis, Filipe Lopes e Eduardo Luís Patriarca.

Outra iniciativa que se articula com esta dimensão pedagógica é precisamente a realização do concurso internacional de composição do Sond’Ar-te Electric Ensemble, uma prática comum hoje em dia nos mais dinâmicos agrupamentos de música de câmara e que tem dado frutos, estimulando a criação de inúmeras obras para ensemble e electrónica. O Concurso de Composição do Sond’Ar-te, para compositores de todas as idades e nacionalidades, existe desde 2008 e cumpre em 2016 a sua 6.ª edição, tendo promovido a criação de muitas dezenas de obras e dando a conhecer inúmeros compositores, incluindo as novas gerações. As obras vencedoras são tocadas na temporada que sucede ao concurso e integram depois o reportório do Sond’Ar-te Electric Ensemble. No caso dos compositores premiados serem portugueses, o concurso proporciona ainda a edição das partituras das obras numa parceria com o MIC.PT (Centro de Investigação e Informação da Música Portuguesa).

Um projecto internacional

O Sond’Ar-te Electric Ensemble actuou já em diversos lugares do mundo, sobretudo (mas não exclusivamente) em salas e festivais dedicados à música contemporânea. Para além de ter tocado em várias cidades e salas portuguesas (que incluem a Casa da Música ou o Centro Cultural de Belém), o ensemble apresentou-se em Paris, em Varsóvia (Festival de Outono de Varsóvia), Bilbao (Museu Guggenheim), Cuenca, Santiago de Compostela, Toulouse, Londres (City of London Festival), Seoul, Tóquio ou Berlim. Durante a presente temporada 2015/2016 já se apresentou em Grenoble e em Munique.

A dimensão internacional do projecto tem expressão não apenas na constante apresentação de obras portuguesas no estrangeiro e na tentativa de dar a máxima circulação internacional a composições de criadores portugueses, mas também no convite à colaboração regular de músicos e maestros estrangeiros. Essa dimensão é hoje fundamental para permitir a partilha, o diálogo, a troca e a divulgação da nova música na Europa e no mundo. O ensemble trabalhou, entre outros, com maestros internacionalmente reconhecidos como Guillaume Bourgogne, Petter Sundkvist, Pedro Amaral, Jean-Sébastien Béreau, Laurent Cuniot, Franck Ollu e Pedro Neves. Os convites não se ficam por aqui: estendem-se também a intérpretes portugueses e estrangeiros de outros instrumentos que colaboram pontualmente com o Sond’Ar-te.

O concerto que o ensemble realizará no próximo dia 9 de Julho no Centro Cultural de Cascais é um bom exemplo de um trabalho com artistas convidados. Trata-se de um concerto monográfico com obras de Miguel Azguime, em que será estreada a obra Trabalho Poético: A árvore (a partir da obra poética de Carlos de Oliveira numa co-encomenda da Fundação D.Luis I e da European Art Science Technology Network) interpretada por Marina Pacheco (soprano) e pelo Sond’Ar-te Electric Ensemble, dirigido por Guillaume Bourgogne. Neste concerto será apresentada também uma nova versão da obra (ThS)inking Survival Kit, para soprano e ensemble, interpretada por Frances M. Lynch (soprano) e pelo Sond’Ar-te.

Qualidade técnica e excelência artística

No sentido de permitir o trabalho permanente de um grupo em que todos os intérpretes possuem preenchidas carreiras a solo, o Sond’Ar-te tem incluído esporadicamente músicos para os mesmos instrumentos numa lista que revela um conjunto de intérpretes excepcionais das novas gerações, na maior parte dos casos com carreiras solísticas internacionais e com um nível técnico e artístico de excelência. No último Música Viva o ensemble apresentou-se com Sílvia Cancela, Suzanna Lidegran, Nuno Pinto, Luís André Ferreira e Elsa Silva. A estes intérpretes haveria que somar todos os que garantem a projecção e o design sonoro das partes de electrónica nos concertos do ensemble, frequentemente garantidos por Miguel Azguime, Paula Azguime e pelas qualidades técnicas e o saber-fazer dos colaboradores do Miso Studio, mas que também foram muitas vezes partilhados com os próprios compositores das obras.

O futuro já presente

O Sond’Ar-te acabou de estrear em Maio passado mais quatro obras portuguesas no Festival Música Viva 2016, da autoria de Miguel Azguime, Ricardo Ribeiro, Bruno Gabirro, e Patrícia Sucena de Almeida. Ao longo deste ano serão apresentadas ainda novas obras de Eduardo Luís Patriarca, Jaime Reis, Francisco Uberto, Filipe Lopes e Pedro Rebelo. Exemplos de um trabalho permanente e persistente, com uma intensidade invulgar na música portuguesa contemporânea.

Dezenas de obras encomendadas e estreadas, um reportório que passa por mais de uma centena de compositores de todo o mundo, com um peso importante de compositores portugueses: se a isto somarmos ainda o trabalho de edição fonográfica consistente e regular, percebemos como o Sond’Ar-te Electric Ensemble tem dado um contributo importante para a nova criação contemporânea e um impulso decisivo para a divulgação e circulação da música portuguesa de hoje.

O grupo tem sido destacado internacionalmente como um exemplo de criação artística no domínio da música contemporânea que consegue conciliar a mais alta qualidade interpretativa com uma dinâmica divulgadora da nova criação musical, procurando a mais larga circulação internacional da música que toca. Como sugere o próprio nome do ensemble - Sond’Ar-te - o seu trabalho passa, enfim, por desenvolver uma pesquisa artística, em estreita ligação com as novas tecnologias, capaz de “sondar” os novos caminhos da música (e de defender a música como “som de arte”), para estimular e dar a escutar a criação contemporânea portuguesa e mundial.

Mais informações no site do Sond’Ar-te Electric Ensemble

 

 

 

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