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Nuno Côrte-Real


Três mestres antigos e três modernos influenciaram potencialmente a criação de Nuno Côrte-Real: Bach, Beethoven, Mahler e Messiaen, Berio, Nono. Segundo o compositor as suas influências têm dois sentidos distintos: “Um, técnico, preciso, que posso explicar clara e nitidamente (...). Outro, subjectivo, impreciso, em total oposição ao primeiro, e que apenas posso descrever como contando histórias (...).” [1] Nuno Côrte-Real nasceu em Lisboa no ano de 1971. Em 1995 concluiu o Curso Superior de Composição da Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou com Carlos Caires, Roberto Perez, Christopher Bochmann, António Pinho Vargas e António de Sousa Dias. Viveu nos Países Baixos durante os anos de 1996 a 2002, tendo concluído o Curso de Composição do Conservatório de Roterdão. Paralelamente estudou direcção de orquestra, primeiro como ouvinte no Conservatório de Roterdão e depois na Academia Nacional Superior de Orquestra, em Lisboa. Desde 1997 dirige regularmente obras de sua autoria. Tem dirigido orquestras e agrupamentos como a Orquestrutopica, Filarmónica das Beiras, Ensemble Darcos, Camerata du Rhône e Coro de Câmara Lisboa Cantat. O compositor tem vindo a apresentar inúmeras obras de sua autoria em toda a Europa, Islândia, Estados Unidos e Brasil, tendo recebido encomendas de instituições como a Fundação Calouste Gulbenkian, Teatro Nacional de São Carlos, Casa da Música, Festival Internacional de Música de Mafra, Centro Cultural de Belém, Drumming – Grupo de Percussão, entre outras. Tem efectuado um trabalho sistemático no tratamento da música tradicional portuguesa, já com vários arranjos corais editados em CD, tendo iniciado um ciclo de livros de arranjos para coro e várias combinações de instrumentos, a que deu o título de Novíssimo Cancioneiro, estando já concluído o Livro Primeiro. Nuno Côrte-Real é o fundador e director artístico do Ensemble Darcos, grupo que se dedica à interpretação de música clássica e contemporânea, e com o qual tem estreado várias obras de câmara. No ano de 2003 foi-lhe atribuída a medalha de Mérito Grau Prata da Câmara Municipal de Torres Vedras. No dia 18 de Março de 2011 no Teatro Nacional de São Carlos decorrerá a estreia absoluta da sua nova ópera intitulada “Banksters” com libreto de Vasco Graça Moura, inspirado na peça “Jacob e o Anjo” de José Régio. “Burlesca, satírica e irónica, «Banksters» é uma ópera tragicómica sobre a vida e a morte: morte de quem, em vida, se afastou fatalmente de si próprio, e vida de quem, na morte, encontra a luz de uma paz nunca sentida” [2], conta o compositor. Nuno Côrte-Real renuncia a falar e escrever sobre a sua própria obra, visto que, como afirma, a essência da música não se explica por palavras. O compositor inclina-se mais para uma percepção intuitiva pretendendo transmitir emoção e um lado mais poético da arte. Logo a sua postura estética perante à composição está em oposição à linguagem académica e especulativa cultivada pelas vanguardas do século passado. Tirando proveito dos conceitos estéticos dos minimalistas e pós-minimalistas americanos, Nuno Côrte-Real sobrepõe o valor da percepção auditiva aos valores conceptuais da música. No manifesto de 1968 intitulado “Music as a Gradual Process” (“Música como Processo Gradual”) Steve Reich disse: “Estou interessado em processos perceptíveis. Desejo ter a capacidade de ouvir inteiramente o processo acontecendo na música a soar.” [3] Não obstante, a música de Nuno Côrte-Real “procura um sentido narrativo” e tem uma abordagem mais aberta ao passado. O compositor reinventa “a relação dialéctica entre consonância e dissonância, tende a privilegiar a primeira, enquanto a segunda toma uma função expressiva ou de caracterização dramática.” [4] No panorama actual da música portuguesa Nuno Côrte-Real criou um espaço alternativo marcado pela abertura à tradição e pela liberdade dos processos composicionais. “A eficácia da obra é avaliada em termos perceptivos, isto é, pela escuta e não pela análise ou por uma qualquer declaração de intenções” , escreve Afonso Miranda sobre a música do compositor e maestro. Nuno Côrte-Real cultiva um estilo ecléctico, que está sujeito a várias influências e “contaminações” musicais aproximando-se da linguagem pós-moderna, que tira proveito da pluralidade e diversidade da história da música. Desta maneira, recusando qualquer tipo de interdições e não excluindo nenhum tipo de material musical o compositor criou um estilo marcado pelo individualidade e pela originalidade.

“Mas nada disto é meu, é tudo exterior a mim. Sensações que me ajudam a ter as minhas próprias sensações, a ter o meu próprio universo sensorial. Daqui, em conclusão, partem em viagem todas as coisas que chegam por fim ao meu mundo musical, à finalização que é a minha música...”

Lista de Obra Discografia

“5 Pequenas Músicas de Mar” (2001) “Andarilhos” – I (2002) “Andarilhos” – II (2002) Cole Porter / Nuno Corte-Real “Every Time We Say Goodbye” 1 - Sérgio Azevedo, A Invenção dos Sons. Uma Panorâmica da Composição em Portugal Hoje, Caminho, 1998, p. 523 2 - Nuno Côrte-Real, Notas de Programa; em: Teatro Nacional de São Carlos 3 - Steve Reich, “Music as a Gradual Process (1968)”; em: Writings about Music, Halifax: Nova Scotia College of Art and Design, 1974, p. 9-11 (tradução para português: Jakub Szczypa) 4 - Afonso Miranda, “O Rapaz de Bronze”; em: Sobre Música e Outras Artes 5 - Afonso Miranda, “Tradição”, Idem 6 - Sérgio Azevedo, op. cit., p. 524

 

 

 

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