Título do documento WAKE! First we feel, than we fall...
Data de Composição · 2020
“First we feel. Then we fall. And let her rain now if she likes ... for my time has come.”
Em
Finnegans Wake de James Joyce
Esta obra foi composta a partir das imagens e reflexões que a leitura de
Finnegans Wake de James Joyce criou em mim e emerge do choque pessoal com a ideia de uma vida circular, com o conformismo do destino, com o deixarmo-nos vencer por uma realidade fechada sem alternativas.
A nossa vontade e escolhas num instante específico influenciam todo nosso futuro. Esta obra é um “grito” de inconformismo, um símbolo de vontade contrariar a vida quando ela parece que tudo decidiu.
Como um fluxo de energia que rebenta as correntes que nos prendem a uma realidade que parece permanente e imutável, o clarinete baixo movimenta-se durante as duas secções da peça mantendo viva esta tensão vital, nas articulações, respirações e gestos.
O material rítmico é derivado e variado de uma mesma base que num processo cíclico de transformações sustenta a ideia de obsessão e de retorno incontrolado. Este mesmo recurso é usado na sucessão de campos harmónicos em toda a obra, sendo deixado ao intérprete a liberdade de encontrar formas de se libertar destes movimentos circulares sobrepostos.
Apesar da tradução imediata de “wake” ser despertar ou acordar, aqui o foco está no sentido duplo de tomada de consciência e de turbulência, ambas como solução para o tédio do retorno eterno.
Agradeço o desafio ao Luís Gomes que me estimulou a acabar esta peça e a quem dedico não só pelas suas qualidades como intérprete, mas porque em tempos decidiu que não ficaria preso a um vaticínio, mas que tornaria o impossível em possível.
Pedro Pinto Figueiredo
GRAVAÇÃO [Luís Gomes (clarinete baixo); Festival DME; Lisboa Incomum; 2021.03.21]