Escrita no âmbito do workshop ENOA Composing for Voices and Orchestra com Kaija
Saariaho
Autor do Texto Rabindranath Tagore
Título da Publicação Fruit-Gathering
Descobri Rabindranath Tagore através de Fernando Pessoa, enquanto pesquisava a sua obra. Nessa altura, Tagore estava em destaque na Casa Fernando Pessoa, por pertencer à coleção privada do poeta português e por ter sido uma influência para ele. Fiquei fascinada pela escrita de Tagore, pela forma sublime como relaciona a espiritualidade com a natureza.
O poema selecionado é o septuagésimo terceiro numa coleção de oitenta e seis poemas intitulada
Fruit-Gathering de Rabindranath Tagore.
O tema do livro, e do poema, é baseado na relação entre Deus e o homem, o átomo e o cosmos. Em Tagore, os frutos e as flores simbolizam os seus valores morais e espirituais em relação ao amor pelo criador. De um ponto de vista pessoal, o poema transporta-me para um outro lugar, ou dimensão, numa manhã fresca de
primavera, no meio de um prado ou de uma floresta, onde podemos ver as plantas a brilhar com o orvalho e como se fosse possível ouvi-lo cair no solo. Em dado momento, os nossos pensamentos levam-nos a questionar-nos sobre o nosso caminho e a olharmo-nos ao espelho. Para Tagore, as perguntas direcionam-se ao criador, contudo, creio que essas questões são também uma forma de nos questionarmos sobre nós próprios e sobre a forma como levamos as nossas vidas. Deste modo,
embody [the spring] inicia-se numa atmosfera muito calma, com harpa, celesta, pizzicato nas cordas e com a soprano, que momentos depois começa a descrever o que está a ver e a sentir, encarnando o ambiente que a rodeia. Num segundo momento, a atmosfera muda e acentua-se a introspeção gerada pelo questionamento interior, destacando-se o uso dos metais, que pontuam as primeiras questões.
Solange Azevedo · Folha de Sala (Gulbenkian · 2022.07.15)