Jogo Duplo parte de uma fotografia que mostra uma visita de guerrilheiros do PAIGC às tropas portuguesas na Guiné, depois do 25 de Abril. O relato de um dos soldados portugueses retratado fala de como parte da população na altura fazia jogo duplo, com familiares pertencentes ao PAIGC, mas mantendo relações com os portugueses que apoiavam.
A peça explora uma situação de ambiguidade, ou ambivalência crescente, acumulando vários estratos de significação paralelos em processo permanente de transferência entre a cena fotografada e a cena presente no palco, colocando quem escuta numa posição dúbia de construção de sentido.
Compondo diferentes jogos sonoros e semânticos na relação com a imagem, a sua história, mas também com os próprios músicos, a peça desdobra-se em duplos sentidos que convidam a uma reflexão mais alargada sobre acção, autonomia e emancipação.
Peça encomendada no contexto da exposição “A Guerra Guardada – Fotografias de Soldados Portugueses em Angola, Guiné e Moçambique (1961-74)”, com curadoria de Maria José Lobo Antunes e Inês Ponte. A exposição explora coleções pessoais de homens que em tempos foram soldados, sendo que a maioria foi recolhida através de entrevistas presenciais no quadro de uma investigação etnográfica no ICS-ULisboa.