Compositor, investigador e Professor Associado na Universidade de Ciências Aplicadas de Mainz – Paulo Ferreira-Lopes está Em Foco no MIC.PT em maio, para assinalar seu 60.º aniversário.
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Título do documento Things are lazy but want to be free
Data de Composição· 2023
Instrumentação Detalhada
Categoria Musical Música de câmara (de 2 a 8 instrumentos)
Instrumentação Sintética septeto de percussão
Estreia
Data 2023/Dec/30
Intérpretes
Alunos do ensino superior participantes no Festival
Tomás Santos [UÉ]
Rúben Oliveira [UM]
Sofia Costa [ESMAE]
Beatriz Magalhães [UA]
Ismael Sequeira Gouveia [ESART]
Joana Duarte [ESML]
Bernardo Ramos [ANSO] Nuno Aroso (direção) [UA]
Entidade/Evento Festival Itenerante de Percussão
Localidade Castelo Branco
País Portugal
Notas Sobre a Obra
Esta peça vem juntar-se à rica tradição de literatura não-especializada que abusa do conceito de “entropia”. Mas fá-lo com a esperança de uma leitura mais justa — como, de resto, todas as outras o tentaram.
Não a sentimos como quantidade física, ao contrário da gravidade (que nos faz pesar os ossos), da fricção (que nos faz doer os ossos) ou da energia e da força (que nos fazem mover o que nos vai restando dos ossos). Ainda assim — ou precisamente por isso —, a entropia enquanto metáfora parece inspirar mais que todos estes outros conceitos. Toda a gente sabe que a entropia é o caos e a desordem. Pior: toda a gente sabe que a desordem só aumenta, que o caos só se espalha. Toda a gente sabe que é a segunda lei da termodinâmica (ainda que pouca gente saiba de termodinâmica). O retrato mais completo não é assim, claro. Se assim fosse, como explicar a biologia, que pega em matéria desorganizada precisamente para a reconstituir em complexas organizações?
Um relato melhor da entropia será então: de quantas maneiras diferentes conseguimos nós reconstruir um mesmo todo complexo a partir das suas partes constituintes? Como é que do caos (seja a palavra entendida na sua acepção mais coloquial, na filosófica ou na técnica) emerge um equilíbrio provável? Esta tem sido, de resto, a pergunta motriz de muita da minha produção recente, especialmente nas peças que fazem uso de alguma componente de álea. Como desenhar sistemas que absorvam certo tipo de energia — ou que energia se expressa em certo tipo de sistemas? Os sons desta peça, organizados ao longo dos eixos dícticos de vários quadrados de Greimas, estão em permanente tensão — algo que a matéria não gosta, como está bem de ver pela expectável reacção provocada pela leitura da oração anterior. Esta tensão liberta mais e mais energia, que se livra das estruturas que a continha e deixa ser capaz de trabalho. A dramaturgia da peça encena, então, um constante reconfigurar da textura e do gesto musicais — do ambiente em que eles existem —, de forma a resgatar a vida do caos da liberdade.