Categoria Musical Música de câmara (de 2 a 8 instrumentos)
Instrumentação Sintética quarteto de trompetes
Esta obra apresenta uma viagem musical ao longo da Estrada Nacional 2, que percorre o interior de Portugal de norte a sul. A peça encontra-se dividida em três andamentos e resulta da inspiração em temas do cancioneiro tradicional português, que aqui recebem uma roupagem diferente, por vezes uma reviravolta completa, como já é habitual nas minhas obras. O primeiro andamento, “norte”, tem por base a canção “Mirandum se fui a la guerra”, uma conhecida canção de Trás-os-Montes e Alto Douro que faz referência à Guerra do Mirandum em 1762. Esta melodia tem a particularidade de ter algumas notas em comum com uma canção de embalar da Beira Baixa, “Vai-te embora ó papão”. Assim, à medida que o andamento se aproxima do final, ambas as melodias começam a lutar pelo protagonismo até que a música se deixa embalar em direção às Beiras. O segundo andamento, “centro”, baseia-se na canção “Ó malhão, triste malhão”, com uma melodia melancólica, que é apresentada pelo fliscorne. Enquanto isso, os outros trompetes revezam-se numa densa harmonia, com movimentos pontilísticos e recheada de pequenos comentários. A melodia inicial é, então, apresentada pelos trompetes enquanto o fliscorne executa uma improvisação escrita. Passamos o rio Tejo e a viagem prossegue para terras do sul de Portugal, onde a canção alentejana “Ó rama, ó que linda rama” é completamente desconstruída. Em vez de se manter numa tonalidade maior passa para o modo lídio dominante, com swing nas semicolcheias e improvisações para cada um dos trompetistas, acompanhadas por percussões de altura definida no bocal. O propósito das percussões é também permitir que os trompetistas possam respirar um pouco, retirar o bocal dos lábios e descansar, um aspeto que muitas vezes os compositores se esquecem de assegurar. Cada improvisação é composta por 8 compassos, podendo ser expandida e transformada numa improvisação real em lídio dominante. Para tal, basta que a secção rítmica continue a repetir os 4 compassos indicados e avance após a indicação do solista. Quanto às percussões, estas devem ser executadas o mais forte possível, direcionando as campânulas para o público. Não é necessário bater com demasiada força, caso contrário poderá haver o risco de o bocal ficar preso no leadpipe. Apenas é necessário vedar bem o bocal, aplicando pancadas secas com a mão relaxada.
Como em toda a música, convido os intérpretes a se divertirem e a serem coautores do resultado artístico.
Ricardo Matosinhos