Há um galope indomável dentro deste peito, uma força que não se deixa derrotar: lume invencível que me consome e me devora.
Não hesites, vai. Não tenhas medo. Fecha os olhos e avança.
Cá dentro, um lugar vazio aguarda o incêndio e o fulgor de um abraço, de um beijo: peito que estremece arrítmico como um abalo telúrico que rasga a pele.
Não hesites, vai. Desliza como a corrente de um rio. Flui como a água que desce para a foz.
Com força, determinação, e de mãos dadas.
Há que ser rio: é-se rio ou abismo.
Talvez esta seja a história de uma mulher que, não tendo conseguido ser rio, tornou-se abismo. Talvez seja a história de alguém que, ao hesitar, matou uma parte de sim. Talvez esta seja a história de todos nós: quando o nosso medo nos mata a sangue-frio.
Caiu a última pétala da tarde, e ela anoitece só, povoada pela angústia e pela dor, dilacerada pelo arrependimento. Depois de anoitecer, instala-se a escuridão e começa o luto.
Talvez tenha aprendido a mais importante lição, talvez tenha fundado uma nova nascente e um novo um leito dentro do peito, mas é tarde de mais: já não pode avançar de mãos dadas.
É preciso cumprir a máxima de Mário Cesariny: “Ama como a estrada começa”.
É preciso ser rio.
Para ti, com um rio dentro do peito.
Diogo da Costa Ferreira