Título Ra Clock
Tipo de Registo Áudio Música
Tipo de Suporte CD
Número de Pistas 1
Data 2002
Intérpretes da Gravação Sei Miguel (trompetes e piano), Fala Mariam (trombone alto), Manuel Mota (guitarra eléctrica), Paulinho Russolo (órgão), Margarida Garcia (guitarra baixo eléctrica), Monsieur Trinité (udu e percussão), César Burago (gong master)
Observações
tracks/
The Metal Flower
Asterion
étude for asterion
Isobel
Ra Clock
Produzido por Sei Miguel
de regresso em regresso, eis Sei Miguel, com a edição sucessora do cd Still Alive in Bairro Alto. O novo disco tem por genérico Ra Clock e, como é habitual com Sei Miguel e sua ‘entourage’ de músicos, este é um registo de desafio ao auditor- para que a música seja um risco e respectiva compensação e não apenas um trivial facilitismo.
António Sérgio, O Independente, 2003
Sei Miguel è un compositore, direttore d´orchestra e principalmente trombettista ´anomalo´portoghese attivo da oltre venti anni e del cui giro di collaborattori fa parte anche Manuel Mota, cresciuto e avvicinatosi all´avant anche dietro la sua influenza. Il magnifico doppio "Token" (AnAnAnA 1999) ce lo aveva fatto conoscere come una delle migliori espressioni del jazz avanzato contemporaneo, per quanto cosi decentrato da restare inevitabilmente in disparte.
Questo nuovo lavoro ce lo fa ritrovare ancora in splendida forma e ancor più surreale che mai. Accanto alle sue digressioni di tromba (e piano) lente e diradate, troviamo di volta in volta percussioni sparse (Asterion), un minimale accompagnamento di gong (The Metal Flower), la chitarra di Manuel Mota con un contrabasso, un trombone e un ´wind gong´(la splendida title track).
Nulla però che faccia pensare mai e quanto normalmente s´associa ai relativi suoni. E´una musica stirata e rimbrottata, quasi casuale eppure regolata da esatte forme armoniche che si rincorrono senza alcuna fretta, lasciando spazio a ciascun elemento d´esprimersi senza mai sovrapporsi, in un quadro complessivo che pare la diluizione d´un precedente addensamento che, quello si, era (free) jazz. Non so come ma la musica di Sei Miguel fa pensare a quella di Asa-Chang, per quanto distanti siano le due espressioni. Forse è per l´utillizo delle percussioni in forma assolutamente non ritmica ma ´dialogante´, e comunque rarefatte e cosi circospette da farsi misteriose e quasi irreali; forse per la´seria ironia´che leggiamo dietro ogni singola nota, forse per i canovacci strutturali assolutamente alieni da tutto e insofferenti a qualunque paragone. Fatto sta che a mio avviso si tratta in entrambi i casi dei materiali più originali che si possano ascoltare oggi in ambito, diciamo, ´out-jazz´.
Stefano I. Bianchi, Blow Up, 2003
Jazz além. Mas além de que lugar? Segundo as coordenadas de Sei Miguel, ir pelo jazz é arriscar-se numa aventura interior sem retorno, de transmutação, transcendência e transferência da personalidade para uma máscara de enigmas. "Ra Clock" é, na forma, uma homenagem a Sun Ra, que o trompetista português considera como avatar da música contemporânea, nomeadamente através da suite com o mesmo título, espécie de livro de horas que ilustra o percurso musical e espiritual do autor de "It's after the End of the World". Disco diluviano, no sentido de precipitação e revelação, transporta consigo os mesmos estigmas e a imagética mitológicos que ilustravam a obra do teclista americano, na reapropriação de uma ancestralidade por onde passa, afinal, a decifração do labirinto tecido em "Astérion" ou do microclima de 33 segundos intitulado "Isobel".
Não há madeiras, apenas metal: trompete de bolso, trombone, guitarra, gongos, piano, percussões e água elementar. E, em "Astérion", uma "drone" de órgão Hammond a calcar a pedra e o cristal. Pressente-se aqui algo carregado com a mesma energia mágica das florestas virtuais do quarto mundo de Jon Hassell, os mesmos rituais de utilização dos sonhos como via de acesso ao interdito. E o espectro de Miles a espreitar nesta transmigração.
"Ra clock", da "viagem da alma até ao planeta Terra" até ao "caminho de regresso para as estrelas", instala-se no âmago desse tal "além" situado entre as cinzas do jazz e a música concreta, com citações, pelo meio, às sonoridades siderais de Sun Ra. Um disco difícil, como são todos os de Sei Miguel, exercício de sublimação da loucura em discurso do método.
Fernando Magalhães, Público, 2003
O novo CD do trompetista português poderia ser a continuação de «Token», do mesmo modo que este desenvolveu algumas implicações deixadas em aberto no anterior «Showtime» - por exemplo, a estrutura de tipo minimalista que aí encontramos. O disco que os intercalou, «Still Alive in Bairro Alto», rompeu com a sequência mas introduziu o factor “live” agora explorado. De facto, se tudo parece unir estas duas edições, em termos musicais e no que respeita à comum variedade de conteúdos, há um ponto fundamental que as separa: «Token» foi inteiramente gravado em estúdio e este «Ra Clock» é uma recolha de situações gravadas ao vivo, em concertos, encontros de amigos ou locais públicos. Se os métodos de trabalho de Sei Miguel são os mesmos ou semelhantes para um e para o outro destes contextos, a verdade é que os resultados variam claramente. Podíamos dizer que outra diferença deste título em relação àquele álbum duplo é o protagonismo instrumental de Miguel, mas a verdade é que, aqui também, é o compositor e o arranjador que brilham, mais do que o soprador. Neste trabalho, nada se repete: «The Metal Flower» é um duo do líder com os gongos de César Burago e «Asterion», para quarteto, inclui Fala Mariam no trombone alto, Monsieur Trinité num tambor de barro africano e Paulinho Russolo no órgão Hammond. A peça final junta os músicos já apontados (à excepção de Russolo) a Manuel Mota na guitarra eléctrica e Margarida Garcia no contrabaixo, pelo meio ficando uma divagação pianística do próprio Sei Miguel sobre um fundo de conversas («Étude for Asterion») e um pequeno apontamento em que o som predominante é proporcionado pela água («Isobel»). A junção de registos tão diferentes poderia roubar unidade a este disco, mas é precisamente o contrário o que acontece: tal como em «Token», o interesse está mesmo nesse carácter mutante, tendo como único denominador comum o estilo geométrico deste “jazzman” das margens que o jazz institucional não reconhece devido às suas “extravagâncias” e o experimentalismo não admite graças à sua confessada aspiração ao “mainstream”. Estilo geométrico, disse eu? De facto, não andaremos longe da verdade se apontarmos a música de Sei Miguel como o cubismo do jazz.
Rui Eduardo Paes, JL, 2003
Muy interesante la propuesta de éste músico portugués. Creando una grabación compuesta a partir de grabaciones en distintas fechas (tanto en estudio como en directo) y con diferentes formaciones en cada una de las composiciones del disco, mantiene una coherente unidad sonora, basada en la búsqueda de la creación de ambientes sonoros y en la improvisación en el sentido más libre del término. Las largas "Asterion" y "Ra clock" ocupan más de las tres cuartas partes del disco. En la primera de ellas a la base casi minimal de la percusión con un sonido muy particular (african "soprano" clay drum), se une el órgano Hammond (utilizado como puro colchón sonoro) y crean una base para la improvisación de trompeta y trombón, creando ambientes bien diferenciados. En cuanto a la segunda de las citadas, su sonoridad pudiera traer a la memoria el eco de sonoridades cósmicas. Caminos muy interesantes dentro de la improvisación en su sentido más amplio.
José Francisco Tapiz, Tomajazz, 2003
Acesso