Título Entrevista com Pedro Faria Gomes
Autor Rui Miguel Leitão
Título Entrevista com Pedro Faria Gomes
Tipo Entrevista
Autor Rui Miguel Leitão
Outros Autores Pedro Faria Gomes
Data 2006/Feb/28
Observações
Entrevista com Pedro Faria Gomes
Pedro Faria Gomes é um nome que se tem vindo a afirmar, ao longo dos últimos cinco anos, no universo da composição musical no nosso país. Estudou durante largos anos na Academia de Música de Santa Cecília e formou-se em 2001, em Composição, na Escola Superior de Música de Lisboa.
No seu catálogo constam obras escritas para as mais variadas formações musicais. Todavia, nota-se uma particular apetência pelo tratamento musical da palavra, sendo disso exemplo a "Crónica de dor e morte – Carta de Anrique da Mota a D. João III", escrita para mezzo-soprano, barítono, narrador, guitarra portuguesa e piano, estreada em 2003. Opta nas suas composições por uma escrita bastante afirmativa, onde o elo comunicativo com a audiência é garantido de maneira persuasiva.
Nesta entrevista, fala-nos sobre a obra – "O Violino Cigano" – que vai ser estreada pela OML no Teatro Municipal São Luíz no próximo dia 10 e repetida nos dias 11, 12, 15, 16, 17, 18 e 19.
P: Esta nova composição – "O Violino Cigano" – integra a narração de um conto tradicional cigano. Porque é que escolheste este texto?
Escolhi este conto imediatamente, ao ter o primeiro contacto com ele, por me ter sugerido desde logo ideias musicais. Em termos formais, tem uma certa linearidade narrativa que me pareceu também adequada a que a conjugação texto narrado-música funcionasse eficazmente. Os contos tradicionais são espelho de culturas ancestrais e por isso ricos em termos de potencial expressivo. Este tem um carácter ligeiramente sombrio que me agrada.
P: Que relação se estabelece nesta obra entre a música e o texto?
A interacção narrador-orquestra faz-se, ora por alternância, ora por sobreposição. Esta última forma de escrita para o narrador, nunca chegando ao ritmo escrito, confere-lhe alguma complexidade, estando os timings de entradas e saídas previstos de forma bastante rigorosa. A música é descritiva, tem no texto uma fonte decisiva para a sua definição. Não é, no entanto, sempre igualmente directa essa correspondência. Há na peça três tipos de música diferenciados quanto a esse aspecto: 1) grande descrição, geral, de cenário ou ambiente; 2) pequena descrição, de pormenor, ou pequeno acontecimento; 3) grande acontecimento ou elemento decisivo no desenrolar da acção.
P: Pretende-se que este programa se dirija a um público mais jovem. Como é que entendes a especificidade desse público?
É um desafio interessante na medida em que a capacidade de concentração só vai crescendo com a idade e, no entanto, as crianças são desde muito cedo extraordinariamente abertas e receptivas à linguagem artística. No entanto, não há para mim uma música destinada específica e exclusivamente a crianças. As realizações mais felizes neste tipo de projectos sempre cativaram simultaneamente crianças e adultos, mesmo que de maneiras diferentes. Nestes últimos dias tenho tido a oportunidade de observar reacções a passagens d’O Violino Cigano por parte de pessoas de diferentes idades. Se, por exemplo, os meus alunos mais avançados se interessam por aspectos da harmonia ou da orquestração, pessoas com mais idade têm normalmente uma perspectiva mais global e enquadrada da obra em si. Já crianças de dez ou onze anos relacionam-se muito directamente com a história contada, visivelmente sensibilizadas pela conjugação entre música e texto, embora sem se aperceberem propriamente desse processo.
P: Já tens algum outro projecto em mãos, neste momento? E, já agora, Qual é a obra que gostavas de escrever e que ainda não viste reunidas as condições para o fazer?
Já de seguida vou escrever uma peça para coro e orquestra de cordas, a estrear em Maio pelo coro Ricercare e pela Sinfonietta de Lisboa, para além de algumas pequenas peças de música de câmara. Gostava de vir a escrever uma ópera. Vejo este género como o desafio supremo, quer em termos de exigência composicional quer pelo potencial expressivo que encerra.
Rui Miguel Leitão
(fonte: site da Orquestra Metropolitana de Lisboa)
Acesso