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Método Orff
Fui assistir a uma conferência do Orff na Universidade de Munique. Ele,
para a fazer, mexia-se, andava, dançava, fazia tudo. Não era como
aquelas conferências a que estamos habituados, era antes uma forma viva
que ele fazia criar aos outros. Essa conferência teve imenso interesse
– eu pensei que ia ser uma maçada, e na verdade foi fantástico.
Eu nessa altura estava, no entanto, a trabalhar com o Stockhausen, que era completamente
diferente.
Eu tinha que fazer relatórios para a Gulbenkian, uma vez que estava na
Alemanha com uma bolsa, e falei da conferência. A Madalena Perdigão
disse-me logo que queriam experimentar em Portugal. Comecei então a dar
aulas a crianças que não pagavam nada e a ter essa vivência.
Depois passei para o curso de professores, porque havia alguns que vinham assistir
e me perguntavam se eu ia dar cursos para professores.
Tenho três livros, divididos por anos e por idades, com canções
baseadas na música popular, que é o que as pessoas conhecem. Pode
até ser má música, mas é a que foi criada pelas
pessoas. Isso é muito importante, porque vai ao encontro do indivíduo,
que não é só um receptor passivo, é um criador também.
Quando o método Orff é bem dado, penso que continua a ser um método
formidável, porque se adapta a cada pessoa. Ele dizia que as pessoas
que viviam à beira-mar vêem as coisas de forma diferente dos que
vivem no interior, e aqui entra a questão da tradição.
Às vezes oiço dizer que fazem método Orff e o que vejo
é algo completamente anti-Orff. Eu fiz em vários locais, em Torres
Vedras chegaram a ser sete cursos, e a grande vantagem é realmente cada
aluno poder seguir aquilo que sente.
É um método vivo, em que se pode partir de um mesmo sítio
e cada um ir por caminhos diferentes, mas sempre com as crianças a sentirem
que não estão a ser mandadas. Temos que lhes dar a liberdade de
procurar, mesmo que depois esteja errado, e depois apoiá-los em vez de
dizer logo que está errado. Já me tem acontecido encontrar depois
pessoas que foram minhas alunas e que me vêm dizer que acharam muito mais
interesse nas coisas feitas dessa forma, e isso enriquece-nos enormemente.