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A Sinfonietta de Lisboa
As coisas não são fáceis... nunca serão fáceis
para intérpretes, como não são para compositores, mas não
sei se com alguma propriedade poderei dizer que para maestros são particularmente
difíceis. Nós vivemos num País onde há muito poucas
Orquestras e onde existe uma Política relativamente pouco aberta em relação
ao intérprete e muito particularmente em relação ao maestro
português. Portanto, daí, acho que já está tudo dito...
A Sinfonietta de Lisboa tem sido o meu veículo principal enquanto maestro,
embora tenha dirigido e felizmente que continuo a dirigir outras orquestras,
mas as oportunidades não são, de facto, muitas.
Devo dizer que vou responder a esta pergunta também numa outra perspectiva,
que é a seguinte: como maestro e como programador e director artístico
da Sinfonietta de Lisboa, qual é que é a minha atitude relativamente
à maneira como eu faço a programação? Penso que
isso acabará por estar também próximo da minha veia de
compositor, portanto acho que será uma coisa interessante de falar.
É que da mesma maneira que nós na Sinfonietta de Lisboa procuramos
dar oportunidade à nova música de ser tocada (a que fazem os jovens
compositores), eu procuro um pouco dar a conhecer as obras e os compositores
menos conhecidos, sobretudo do Século XX, mas não só. E
quando falo do Século XX, estou a falar no Século XX todo. Há
vários compositores que nós temos tocado e que continuamos a tocar,
que são compositores praticamente desconhecidos, enfim, que se diz que
são de segundo plano, mas que eu não considero de segundo plano;
apenas o são, porque são, realmente, pouco conhecidos. Posso referir,
por exemplo, um Richard Rodney Bennett, um compositor que ainda é vivo,
ou um Einojuhani Rautavaara, que vamos dentro em breve executar, que é
um compositor Finlandês também vivo. É muito a perspectiva
que eu tenho, a de dar a conhecer a música que, por uma razão
ou por outra, acaba por ser menos ouvida e que não tem razão para
isso. No meu entender não há razão para ser menos conhecida
do que um Stockhausen, ou que do um Beethoven, ou do que um Stravinsky, ou do
que um Britten, que estamos a fazer agora, emparelhado com Frank Bridge. Esse,
por exemplo, já é muito pouco conhecido e que, curiosamente, era
o Professor do Britten, portanto, provavelmente foi a razão de ser de
ele ter uma técnica de composição mais ou menos moderna,
mais ou menos perfeita… enfim, o seu Professor terá tido um papel
fundamental nisso.
Já agora, por acaso, o Rodney Bennet… Eu falei dele, mas não
falei dele por acaso. Porque o Rodney Bennet foi Professor do meu Professor
de Composição. Foi Professor do Christopher Bochmann. Portanto
acaba por ser, inevitavelmente, uma linha directa para aquilo que eu venha a
fazer ou que eu tenha feito.
Por acaso, uma das coisas que eu também gostava de dizer remete um pouco
para os intérpretes, mas remete para a atitude que eu tenho relativamente
à Sinfonietta. É que nós procuramos apresentar-nos com
intérpretes jovens e, da mesma maneira que o fazemos em relação
aos compositores, procuramos proporcionar a esses intérpretes a possibilidade
de se apresentarem com a orquestra, coisa que nem sempre é simples. Um
jovem intérprete de muita qualidade começa a tocar a solo, mas
não é muito fácil apresentar-se com orquestra. Nós
procuramos fazer a ponte entre o intérprete e o compositor, precisamente
aí. Desde que a orquestra existe, temos tido todos os anos um concerto
onde são apresentadas obras de compositores e que são escritas
especificamente para nós; normalmente, uma das obras tem um solista que
é um jovem intérprete. Temos feito isso várias vezes...
com o Pedro Carneiro, com o José Massarrão; com o Pedro Ribeiro
vai ser este ano. Enfim, eu agora poderia falar de mais exemplos desses mas,
de facto, tem sido essa a ideia: o jovem intérprete a tocar com orquestra
ou o jovem compositor (jovem no sentido lato porque alguns são jovens
há mais tempo do que outros) e procurar também por aí,
os compositores menos conhecidos, quer vivos, quer não.