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Concertino para septeto de percussão responde a um desafio lançado por Mário Teixeira, a quem a obra é dedicada, e resulta de uma encomenda da associação Arte no Tempo, sendo destinado ao 2.º Festival Itinerante de Percussão’ 2019, a decorrer em Évora.
Escrever para percussão é lançar-se numa aventura sonora praticamente infinita. Desde os instrumentos de altura definida, aos de altura indefinida, que incluem peles, madeiras, metais, e ainda os mais diversos artefactos do nosso dia-a-dia que também podem ser percutidos (conhecidos como junk percussion), a panóplia de timbres é interminável.
No caso presente, optei por escrever uma peça exclusivamente para instrumentos de altura indefinida, numa procura consciente de sonoridades mais vincadas e, em certa medida, mais abrasivas, quase cubistas. A falta de alturas definidas criou, porém, a necessidade de dar mais importância a outros parâmetros musicais, nomeadamente o ritmo e o timbre. Em termos instrumentais, para além das mais tradicionais percussões de altura indefinida, como tom-toms, timbalas, bongós, triângulos, pratos, etc., decidi utilizar igualmente instrumentos improvisados e menos nobres como frigideiras, saladeiras, tubos de andaimes, amortecedores de carro, entre outros. A intenção ao usar estes objectos do quotidiano que normalmente não são associados com a prática musical, foi criar um mundo sonoro mais rico, e, de um certo ponto de vista, mais urbano.
No campo do ritmo, debrucei-me sobre conceitos nos quais tenho reflectido recentemente, em particular modulações métricas e uso de compassos irracionais (2/5, 3/12, etc.). Estes meios são aqui utilizados para conferir direccionalidade ao discurso musical, numa perspectiva de diversificação dos recursos musicais e variedade de ambientes.
Finalmente, o título escolhido (
Concertino), aponta para a génese concertante da obra, ao mesmo tempo relativamente curta (cerca de 10 min.), mas em que a todos os instrumentistas é dado igual papel de relevo.
Luís Carvalho · Outubro, 2019