Duo formado por Miguel e Paula Azguime, que se estreou há 40 anos, em 1985, e que continua a marcar a criação musical contemporânea - o Miso Ensemble está Em Foco no MIC.PT em abril.
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Esta peça nasce de um falhanço intelectual. O ímpeto inicial para a conceção da peça foi uma passagem da obra “Ich und Du”, em que Martin Buber cauciona que «a vida dos seres humanos não decorre apenas na esfera dos verbos transitivos». «Es besteht nicht aus Tätigkeiten allein, die ein Etwas zum Gegenstand haben» – não consiste apenas de atividades que tenham um algo como objeto. A frase elevava-se em relação às restantes em seu redor, e a promessa de uma gramática singular encorajava a minha propensão à parataxe e à ofensa da sintaxe musical de inspiração linguística (para nada dizer do ímpeto nietzschiano de refazer a gramática que nos impede de conceber novas e radicais relações com o mundo, que suporta igualmente o projeto de Buber).
Mas os exemplos que Buber oferece na sequência da frase supracitada prestam-se apenas a definir essa «esfera dos verbos transitivos». «Ich nehme etwas wahr. Ich empfinde etwas. Ich stelle etwas vor. Ich will etwas. Ich fühle etwas. Ich denke etwas». Da nova gramática prometida, nada. Deixo, então, que outro livro me informe o trabalho: “Poetic Closure: A Study of How Poems End”. A obra de Barbara Herrnstein Smith aprofundou, com respostas do campo da poesia, o entendimento das perguntas motrizes da peça. A peça transforma-se então numa sobre o que faz a música parar – sobre o que faz qualquer coisa parar –, e como recuperar eros de stasis; sobre cadências, interrupções, ligações e finais.
A peça é dedicada a Philipp Henkel, irmão de armas.