Autor do Texto Sophia de Mello Breyner Andresen
Título do Poema ou Texto Revolução — Descobrimento
Título da Publicação O Nome das Coisas
Ano 1977
Autor do Texto Sophia de Mello Breyner Andresen
Título do Poema ou Texto Revolução
Título da Publicação O Nome das Coisas
Ano 1977
Autor do Texto Sophia de Mello Breyner Andresen
Título do Poema ou Texto 25 de Abril
Título da Publicação O Nome das Coisas
Ano 1977
Autor do Texto Sophia de Mello Breyner Andresen
Título do Poema ou Texto Guerra ou Lisboa 72
Título da Publicação O Nome das Coisas
Ano 1977
Autor do Texto Sophia de Mello Breyner Andresen
Título do Poema ou Texto Data
Título da Publicação Livro Sexto
Ano 1962
Uma nota introdutória
Não gosto muito de falar — e menos ainda de escrever — sobre a minha música. Acima de tudo, não gostaria de condicionar o ouvinte a interpretar a música de uma ou outra forma. Nem tirar-lhe a frescura da experiência. Nem mesmo quando existe um contexto político e social bem definido como é o caso de A Madrugada, uma peça que assinala os 50 anos do 25 de Abril. Na minha opinião, uma das características mais interessantes da música é a sua ambiguidade — a sua tendência para resistir a fixar-se em significados muito concretos ou evidentes. Diferentes pessoas retiram diferentes significados da música que ouvem. A escuta musical é, nesse sentido, um exercício de liberdade.
Um apontamento biográfico
Nasci em 1983, quase 10 anos depois do 25 de Abril. Apesar disso, o 25 de Abril sempre teve uma presença muito forte na minha vida. Recordo-me, desde pequeno, de ir à Baixa do Porto, com os meus pais e avós, assistir às celebrações anuais da Revolução. E sempre ouvi falar em casa sobre esse período de libertação e esperança, em contraste com a opressão e conservadorismo do anterior regime. O meu avô Jerónimo — a cuja memória esta peça é dedicada — fora um ativo militante anti-salazarista, tendo sido mais do que uma vez preso e torturado pela PIDE. O meu pai — que tinha 18 anos em 1974 — estava a preparar-se para fugir do país por causa da Guerra Colonial. Se não fosse a Revolução, provavelmente não teria conhecido a minha mãe — e eu não teria nascido. Participei, ainda, em muitas celebrações do 25 de Abril, na Avenida dos Aliados, como coralista do Coral de Letras da Universidade do Porto, de que fui membro ativo entre 2004 e 2018. Foi assim que durante muitos anos passei o dia 24 para o dia 25 a cantar o arranjo de Fernando Lopes-Graça da “Grândola Vila Morena”, junto com muitos dos meus amigos mais próximos e sob a direção sempre inspiradora de José Luís Borges Coelho.
Os poemas de Sophia de Mello Breyner
Foi, por tudo isso, com grande emoção que recebi a encomenda da Casa da Música para escrever uma peça coral-sinfónica para os 50 anos do 25 de Abril. Mais ainda quando o diretor artístico António Jorge Pacheco me explicou que o objetivo seria utilizar poemas de Sophia de Mello Breyner, incluindo aquele que se intitula “25 de Abril” e que começa com a célebre frase “Esta é a madrugada que eu esperava”. Sempre tive grande admiração pela poesia de Sophia — pela sua força expressiva, pela sua concisão e pela sua musicalidade. Selecionei um total de cinco poemas — dois sobre o “tempo de silêncio e mordaça” da Ditadura, em que jovens voltavam de África “com morte no passaporte”; e três sobre o “tempo novo” e o “puro início” em que emerge a Democracia. De modo paralelo, também a minha peça tem essencialmente duas partes — uma para o antes do 25 de Abril, outra para o durante. Ou talvez tenha três partes — talvez o final seja já o depois, num olhar interrogativo de 2024.
Os sons das vozes
Sendo uma peça baseada em poemas de Sophia, as vozes têm um papel central: não só nos coros, mas também na eletrónica. As vozes aparecem com diferentes textos (não só os de Sophia) e com diferentes sons. Cada tipo de som sugere conotações e ambientes diferentes. Não é indiferente se ouvimos o texto cantado pelo coro adulto ou pelo coro infantil, e não é indiferente se o texto aparece na eletrónica com um ou outro timbre. A perceção dos textos também depende, claro, dos sons não-vocais — da orquestra e da eletrónica —, os quais ora sublinham, ora complementam, ora contradizem os das vozes.
Agradecimento
A assinatura da peça pode ser individual, mas o trabalho de composição esteve longe de ser solitário. Muitos foram os que me ajudaram de uma ou de outra forma, incluindo muitos dos instrumentistas e chefes de naipe da Orquestra (vários dos quais me deram preciosas sugestões) e toda a equipa da Digitópia e dos Coros. Agradeço em especial a todos aqueles — entre familiares, amigos e membros da Orquestra e do Coro Infantil — que, com grande paciência e generosidade, participaram nas gravações que serviram de base à eletrónica ou que emprestaram material para a sua realização: o Bernardo Pinhal, o Bruno Costa, a Carolina Rodrigues Moreira, o Carlos Lopes, a Dalila Teixeira, o Dinis Duarte, o Ivan Crespo, o João Moreira, a Lara Loureiro, a minha avó Lídia de Fátima, a Maria Francisca Brito, a Maria Miguel Ribeiro, o Miguel Bastos e os seus pais, José Bastos e Dulce Ramos, o Nuno Vaz, os meus pais, Helena Monteiro e José Moreira, a Raquel Mendes, o Sérgio Carolino, o Severo Martínez, o Wellington Ramos, e a minha tia Maria José Moreira.
Daniel Moreira, 2024 · Nota de Programa (Casa da Música · 2024.04.19)