A história desta peça começa em 2019 com a encomenda de uma breve obra para trompa e electrónica a ser estreada nos “Reencontros de Música Contemporânea 2019” da “Arte no Tempo”. Nasce, na altura, o “Trio para trompa e electrónica”, uma brevíssima peça de cerca de dois minutos escrita para trompa e electrónica. Desta, foi solicitada, por Nuno Aroso, à compositora uma adaptação para vibrafone e electrónica. O percussionista, presente no Teatro Aveirense no dia da estreia da obra, desejava realizá-la num novo instrumento, o vibrafone. Nasce, assim, o “Trio para vibrafone e electrónica” num desafio aceite pela autora, uma brevíssima peça de cerca de três minutos adaptada a um novo instrumento e com uma nova parte electroacústica sobre suporte. Como escreve a autora, em mail, a Nuno Aroso, “São três (Trio) as personagens em palco: vibrafone ao vivo, vibrafone em estúdio (pré-gravado) e trompa em estúdio (pré-gravada).” Nesse mesmo email, acrescenta que a presença do som da trompa na parte electrónica é justificada, sobretudo por aquilo que ela representa: a génese da obra. Mantinha-se, assim, a ideia original, a de um cânone onde se ouvem as três personagens. Um jogo entre a(s) escuta(s) (dos receptores) e os sons projetados (pelos emissores). Estamos no ano de 2020.
Em 2024 é, por fim, realizada a versão “Paráfrase” do “Trio para vibrafone e electrónica” (como uma versão mais longa e explicativa de um texto). As três personagens, agora, são: vibrafone ao vivo, vibrafone pré-gravado e tratado em estúdio e um tongue drum pré-gravado e ao vivo (opcional).
“O antigo Trio está cá todo, ipsis verbis!” (em email escrito a Nuno Aroso). Mais uma vez, é Nuno Aroso quem desafia a autora a alargar o “Trio” para uma obra de fundo para vibrafone e electrónica. De carácter lírico, cantabile e onde o gozo do som, a liberdade e as cores dominam, o novo “Trio” sucede como uma extensão biótica do anterior.
A data de conclusão da obra foi cinco de maio de dois mil e vinte e quatro. Notou, mais tarde, a autora, a coincidência. Era o primeiro domingo de maio, por tradição, o Dia das Mães. Ficou, assim, dedicada a todas as mães do mundo, principalmente às que mais sofrem em tempos de guerras, guerrilhas, operações militares, invasões, perseguições e outras ações militares e de grupos armados, foras de lei que fazem destas mulheres as fugitivas de terras sem deus.
É, ainda, dedicada ao percussionista Nuno Aroso, um desafiador de projetos e sem o qual esta e a versão anterior não teriam existido.
Porto, 13 de maio de 2024
Ângela Lopes