Jovem compositor que em abril completou 30 anos, sendo uma das vozes mais ativas no contexto da música contemporânea em Portugal - Pedro Lima está Em Foco no MIC.PT em setembro.
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Categoria Musical Solista(s) e Orq./Ens. e/ou Coro/Conjunto Vocal
Instrumentação Sintética Flauta e Orquestra
Estreia
Data 1989/Feb/04
Intérpretes
Carlos Franco (flauta)
Orquestra Filarmónica de Nice
Jacques Charpentier (direcção)
Localidade Nice
País França
Notas Sobre a Obra
Sendo a minha primeira incursão de mais fôlego na escrita concertante e orquestral, este concerto significou partir do ponto zero.
Tentei escrever música que desse prazer ser tocada, pois entendo que é urgente reencontrar as coordenadas básicas da linguagem instrumental, e escrever preferencialmente aquilo para que cada instrumento foi feito.
Creio que é possível escrever algo de original mesmo a partir das técnicas habituais de execução; as possibilidades de uma orquestra sinfónica são inesgotáveis, e para as explorar não é necessário levar ao desespero os instrumentistas (nem o público). A música não precisa de ser complicada para ser interessante, e os efeitos "bizarros" que se podem conseguir com os instrumentos tradicionais não são forçosamente o que eles podem produzir de mais risco e inovador.
O Allegro giocoso procura dar à flauta o seu carácter ágil, irreverente, inconstante; o instrumento que o homem construiu que melhor se aproxima da magia evanescente de um pássaro. A orquestra tenta acompanhá-la como o fervilhar de inúmeros personagens numa selva.
O Adagio espressivo é francamente descritivo. Como pano de fundo há três ambientes contrastantes: o 1.º é etéreo (o ar, harmónicos agudos nos violinos e violas), o 2.º é tenebroso (a terra, trémolos nos graves de violoncelos e contrabaixos), e o 3.º é fluido e ameno (a água, que corre entre esses dois extremos; arpejos nas madeiras). A flauta e a trompa são os dois protagonistas que se movem entre esses três elementos, e que se atraem ao ponto de alterarem a ordem do cosmos: a região grave sobe, a região aguda desce, a região "fluida" limita progressivamente o âmbito do seu trajecto, até todos os elementos se encontrarem na mesma região sonora, dissipando-se a tensão no gesto extático de um longo acorde sustentado em pianíssimo por toda a orquestra; flauta e trompa soam então, finalmente, num pacífico uníssono.
No Presto con Fuoco há dois andamentos, um rítmico, outro lírico, que se intercalam a uma velocidade crescente até se fundirem tempestuosamente durante os compassos finais. O efeito pretendido é como o da paisagem que muda constante e abruptamente na janela de um comboio vertiginoso.
Esta obra teve 1.ª audição absoluta em Nice a 4 de Fevereiro de 1989, com a Orquestra Filarmónica de Nice, sob a direcção de Jacques Charpentier e tendo como solista Carlos Franco.
Alexandre Delgado