Sol-oeils é um título composto do vocábulo português "sol" e dos vocábulos franceses "soleil" e "oeil" (o "s" é para o plural, embora gramaticalmente incorrecto nas palavras "sol" e "oeil"). Nesta obra, hoje cantada a doze vozes "a cappella" mas composta para 24 vozes, instrumentos e banda magnética, são utilizadas cerca de cem traduções do vocábulo "sol" em idiomas de todos os continentes, de várias culturas, povos e etnias, da Córsega ao Japão, dos Aztecas e Incas à Polinésia, do Togo à Polónia. São ainda utilizados poemas de Pessoa, de Lorca, de Apollinaire, de G. Ferreira e Boris Vian, que funcionam como geradores de polirritmia e policromia através da significação interna específica de cada um, todos se apoiando num som individual articulado em linha recta ("recto tino"). Segue-se uma parte em que a matéria sonora é escolhida pelos próprios cantores segundo indicações gerais do compositor. A partitura impõe ordem nessa matéria, moldando-a através de instruções precisas sobre a evolução da dinâmica, do registo, do tempo, da densidade, etc. Esta liberdade na escolha da matéria sonora (textos) pode funcionar como libertação do indivíduo, mas que estatisticamente se integra numa massa sonora caótica controlada por instruções da partitura, instruções essas que determinam os acontecimentos e prevêem a nível macroscópico e imprevisível. Podíamos, talvez, numa análise morfológica da obra, dizer que a primeira parte é preenchida por invocações ao Sol, a segunda com os textos referidos, e a terceira com uma invocação final a outros Sóis diferentes dos da primeira parte. Como eixo de todas estas estruturas está o intervalo de segunda maior facilmente referenciável na primeira parte, o que confere a esta obra (nesta versão parcial) o carácter de um grande melisma. Sol-oeils é uma obra indissociável, na sua estrutura e na sua filosofia, de outras obras compostas em série e simultaneamente: Toiles, É-toiles, Oceanos e Oceanos Cósmicos, A-mèr-es, Mare-a-Mare, San-Ge, etc. Esta espécie de supra-humanismo pode estar sintetizada no Sol das crianças japonesas com que termina esta primeira parte de Sol-oeils: Oissàmà.
Cândido Lima
Circulação
Obra
Tipo
Data
Entidade/Evento
Local
Localidade
País
Intérpretes
Observações
Inv Row
Sol-oeils
Execução
1980/Jun/04
4ºs Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea
Fundação Calouste Gulbenkian - Grande Auditório
Lisboa
Portugal
Coro Gulbenkian
Michel Tabachnik (direcção)
Observações
O compositor indica que se trata de uma primeira audição parcial, mas no programa da estreia refere apenas que é a primeira audição em Portugal
O compositor indica que se trata de uma primeira audição parcial, mas no programa da estreia refere apenas que é a primeira audição em Portugal