Local Universidade Nova de Lisboa - Auditório da Reitoria
Localidade Lisboa
País Portugal
Notas Sobre a Obra
Em La Vera Storia d'Ulisse in Mare, tal como em Atlas' Journey, (15 músicos, 1998), imaginei que uma história mítica era contada do alto de um teatro de marionetas: nada mais nada menos que as aventuras de Ulisses numa versão hiper-resumida e altamente catastrófica, como é típico dos teatros de rua com bonecos, vulgo Robertos, que em tempos - há muito idos - faziam as vezes de um jornal de rua, contando histórias reais ou imaginárias (um desses episódios está no Quixote, onde os bonecos contam a história de Dom Gaiteiros e de Dona Melisenda, e foi aproveitado por Falla no seu Retablo de Mestre Pedro). A música desenrola-se em curtas cenas - tocadas sem interrupção - que ilustram o percurso de Ulisses pelos mares, defrontando enigmas, monstros, deuses, a natureza, os homens, e tudo quanto se lhe depara constantemente, num tom de paródia non-sense, que inclui, na percussão, flexatone, chocalhos, reco-reco, meia-dúzia de balões, e um apito, para além de apostar nas capacidades rítmicas do contrafagote. Não obstante este non-sense, algumas secções musicais - que, de certo modo, ilustram os meus sentimentos para com o mundo natural no qual Ulisses peleja e viaja: a majestade serena das montanhas, as ilhas frondosas, as águas azuis do mítico oceano homérico, para além das Colunas de Hércules - fogem ao tom de farsa para descobrir a emoção quase romântica da natureza, nomeadamente em todo o lento e misterioso início, numa secção central baseada nas cordas e na marimba, e ainda no violento e cataclísmico final, que põe um fim abrupto à peça e às peripécias de Ulisses. Um pouco como se Dom Quixote tivesse (mais uma vez) enlouquecido e deitado novamente abaixo o teatrinho de Robertos de Mestre Pedro, para salvar Ulisses de um perigo imaginário... La Vera Storia d'Ulisse in Mare é dedicada a Paolo Pinamonti, que a encomendou para o Teatro Nacional de São Carlos.
Sérgio Azevedo