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Breve Viagem pelo Catálogo
de Obras
A primeira peça que eu tenho no meu catálogo, Uma pequena
almofada, é uma peça “infantil”, feita ainda
no Conservatório. Foi aquele tal motor de arranque para os estagiários
de composição criarem várias actividades viradas para a
composição. Uma delas foi um concurso interno da escola, recebendo
então o meu primeiro prémio (se é que é um prémio
de composição); de qualquer forma, serviu-me mais de motivação
e para pensar que se calhar podia aprender composição. Não
foi um prémio de composição assim tão importante
no sentido do prémio em si, da instituição que o dá,
etc., mas foi importante. Creio que foi a partir daí que percebi que
se podia ver a composição de outra maneira e tentar então
apostar na composição de uma forma mais séria. Essa peça
infantil, baseada num ostinato, não é uma peça por aí
além em termos composicionais, mas na altura serviu exactamente este
propósito.
Em relação às peças seguintes… a peça
para guitarra Pytin foi talvez a minha primeira peça já
na Universidade, onde comecei a utilizar um pensamento mais estruturado e mais
relacionado com a composição em termos mais “sérios”
apesar de ser naturalmente um trabalho ainda muito incipiente. Esta exploração,
no início do meu estudo académico, vá lá, já
se prendia um bocado com o estudo do som, com a preocupação de
explorar o instrumento, uma exploração de gestos instrumentais
não vulgares e que são típicos da música contemporânea.
Explorar o gesto de, enfim, tocar num instrumento de uma forma não convencional
e daí extrair sons também não convencionais. É isso
que a minha peça já reflecte, mesmo no início do meu arranque.
(Fi-la no âmbito do meu quarteto de cordas cujo nome teve de ser alterado
para Quarteto de Cordas Evgueny aquando do meu registo na SPA…
Devia haver centenas de quartetos de cordas e acabei por prestar homenagem a
este professor que me marcou bastante e que muito me ajudou no meu percurso
composicional).
É uma peça que eu acho que é importante e basicamente o
pensamento que a originou representa uma espécie de trabalho com campos
sonoros, nuvens ou agregados sonoros, que se vão modificando e em que
se passa de uns agregados para os outros, através de processos microtonais.
Trabalhei os microtons e criei campos sonoros por onde a peça vai passando.
É uma peça eventualmente interessante… pelo menos para mim
foi importante e fez parte da minha aprendizagem.
Depois as peças electroacústicas… Quer a Apocalíptica,
quer a Viagem foram peças muito importantes pelas descobertas
que eu fiz sobre as novas possibilidades. Compor o próprio som, trabalhar
o próprio som... Estas peças foram realmente importantes, sobretudo
nesse aspecto do trabalho tímbrico, do desenvolvimento de sons feitos
só em computador, através de síntese sonora, feita por
mim… É claro que o software é trabalhado por várias
pessoas e pode haver sons muito parecidos, mas talvez aí nessas peças
haja sons mais “meus” que noutras peças. E nesse sentido
foram peças também muito importantes no meu fazer musical.
A peça Viagem acabou por ter uma importância suplementar
porque foi premiada (embora a Apocalíptica também tenha
tido uma menção honrosa e tenha sido muito importante porque é
uma peça de que gosto muito). Quer uma quer outra são peças
que, no meu entender, são interessantes por causa deste trabalho com
o som, e não só com de representação do som, o que
é uma diferença importante.
Em relação à Musicamania I e II, são
trabalhos em que pensei mais na espacialização, ou seja em usar
o espaço na obra, quer no espaço, quer na execução.
Não foram ainda tocadas, mas pelo menos a Musicamania II para
orquestra de câmara, tem um trabalho e um pensamento por detrás
da peça que tem a ver com a espacialização sonora, sem
electroacústica, mas que está relacionado com aquilo que eu tinha
estudada em electroacústica, ou seja o tal pensamento electroacústico
que também está presente nas peças instrumentais.
Os percursos espaciais na própria escrita são mais notórios
no Musicamania II e tem a ver com a própria localização
dos músicos. A maior parte dos músicos estão no palco com
o maestro e depois há uma disposição espacial de um percussionista,
o qual vai ter uma série de instrumentos “por cima” dos músicos
da orquestra. No fundo da sala existem mais dois percussionistas com mais uma
série de instrumentos e onde posso eventualmente deslocar os vários
sons produzidos. Por fim, num nível ainda mais elevado e por cima destes
percussionistas, haverá um grupo de metais que também entram em
determinada altura na peça. E esta peça não foi pensada
para um espaço virtual, foi mesmo pensada para um espaço real
que é o auditório do departamento de Música da Universidade,
o qual tem uma estrutura metálica onde são colocadas as luzes,
por exemplo. Uma outra ideia que tive é que. Ao fazer um concerto num
local destes, poderia eventualmente colocar os músicos suspensos…
enfim… é um pensamento (ainda não foram tocadas)…