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Música para 21 Clarinetes
Em geral, tenho feito muitas experiências em colocar uma mesma melodia
com ritmos diferentes, e com vários timbres em simultâneo. Ou seja,
tenho tentado criar uma espécie de textura musical que por vezes é
secundária, e outras vezes é a principal. Não é
um técnica que seja muito utilizada, mas evidentemente que não
a uso da mesma forma que, por exemplo, o Ligeti utilizou nos anos 60. Esta textura
pode ser formada a partir de uma camada secundária que servisse como
um acompanhamento à outra camada. Digo camada porque não me quero
referir a ela como melodia. É uma técnica que fica valorizada
se se usar timbres diferentes. No caso dos 21 Clarinetes, essa técnica
foi bastante utilizada, até de uma forma exacerbada, até porque
os timbres eram iguais. Ou seja, nessa peça procurei explorar ao máximo
essa técnica e por essa razão a obra foi estreada numa igreja
onde pude espacializar os músicos.
Nesta peça pude experimentar muitas coisas, para além da espacialização.
Neste peça, pude pela primeira vez colocar alunos a tocar, isto porque
por vezes com músicos profissionais há uma certa resistência
à espacialização. Eu não sou daqueles compositores
que faz música para “tramar” os músicos, tomo-os sempre
numa relação de igualdade. O compositor faz a peça mas
é o músico que faz o espectáculo. Por isso se o músico
não gosta da peça mais vale que não toque. Por isso procuro
fazer coisas exequíveis. Mas voltando à espacialização,
houve algumas resistências, por normalmente um músico não
gostar de tocar sentado ao lado do público, prefere estar mais junto
dos colegas e mais afastado. Por essa razão experimentei pela primeira
vez com alunos. Porque defendo a ideia de que se deve experimentar a espacialização
sem ajuda do computador, apesar de existirem n programas informáticos
que o permitam. Mas acho mais interessante fazê-lo com músicos.
Gosto mais de trabalhar sem recurso à electrónica.
Neste caso concreto, o timbre era obviamente de clarinetes, mas por exemplo
se eu programar um eco ou uma reverberação noutro ponto da sala,
sei que posso transformar esse eco no computador. De um lado da sala toca um
clarinete e do outro lado surge um som transformado inteiramente por computador.
Mesmo assim reconhece-se que a sua origem está no clarinete. Ora, eu
considero muito mais interessante que por exemplo se toque um clarinete e que
venha reflectido um som de uma flauta.
Mas em todo caso, esta peça era para 21 clarinetes, o que permitiu experimentar
harmonias de acordes com 21 sons e permitiu fazer inúmeras viagens pelo
espaço. Havia um refrão que funcionava como uma espécie
de ritornello de espaço, isto é, o que regressava era a viagem
pelo espaço; o que era repetido era essa viagem. Se o som ia por exemplo
do palco e depois para um ponto e depois outro ponto, no refrão essa
viagem era repetida, mas a música já era diferente.