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OrchestrUtopica


“Não me interesso por ter uma orquestra que soa como ela própria. Quero que tenha o som do compositor.”

Leonard Bernstein

10º Aniversário da OrchestrUtopica

"O mais difícil é manter a obra viva depois da estreia" queixam-se jovens compositores não só em Portugal, mas também no mundo inteiro. No panorama musical de hoje, a criação contemporânea erudita acaba por ser uma opção menos escolhida, menos popular, acusada de demasiada complexidade e falta de acessibilidade. Não apenas os públicos, mas também os próprios músicos com muita frequência preferem tocar o repertório mais clássico, mais conhecido, "com linhas melódicas e harmonia", como costumam dizer. Contudo, não é a música actual que da melhor maneira reflecte a contemporaneidade, o espírito dos nossos tempos? Não era bom sair às vezes dos museus da música, por muito elaborados que sejam, para ouvir um concerto num ambiente que "vive e respira"? No panorama actual da música portuguesa a OrchestrUtopica, grupo residente do Centro Cultural de Belém, é um dos poucos exemplos portugueses dedicado à interpretação da música "em tempo real". Constituído por músicos de referência, o grupo é concebido como um instrumento para compositores, com a tónica posta na criação contemporânea portuguesa. A orquestra constitui um lugar de encontro intergeracional de compositores e é uma oportunidade para internacionalizar a criação musical contemporânea proveniente de Portugal. A OrchestrUtopica foi formada em 2001 por Carlos Caires, José Júlio Lopes, Luís Tinoco, António Pinho Vargas e pelo maestro Cesário Costa. Desde o inicio foi saudada com grande entusiasmo tanto pelo público, como pela crítica e comunidade musical. "Há 10 anos não havia uma formação deste tipo"[1], conta José Júlio Lopes, actual director artístico, no programa de Manuela Paraíso, "Na Outra Margem", dedicado ao 10º aniversário da orquestra. "Existia uma certa emergência de encontrar condições para que em tempo útil as [novas] obras pudessem cumprir o seu papel – ser ouvidas e apresentadas ao público"[2], acrescenta. O ensemble, que corresponde ao formato duma sinfonietta, tem ligação especial à música actual tendo criado um sistema de encomendas e residências – a compositora em residência na OrchestrUtopica ao longo de 2011 é Andreia Pinto-Correia, que tem desenvolvido a sua actividade profissional nos Estados Unidos[3]. A OrchestrUtopica apresenta-se como um espaço de troca de experiências entre compositores e músicos criando também um ponto de cruzamento para públicos de vários ambientes. Ao longo da sua existência vai mostrando tanto as novas tendências na música portuguesa e internacional, como as suas diversas expressões. A filosofia do grupo aposta firmemente na diversidade estética não reconhecendo fronteiras entre campos musicais e outras disciplinas artísticas – os músicos da orquestra costumam participar em concertos-instalações ou "não concertos" que captam a atenção de ouvintes fora do mundo musical erudito. "A nossa teoria, de que é possível cruzar públicos, funciona. Há divisões entre as disciplinas artísticas que são mais fáceis de quebrar se as pessoas derem passos"[4], explica José Júlio Lopes. A vitalidade da OrchestrUtopica depende de uma visão aberta e abrangente no que respeita à criação musical e artística contemporâneas. Uma forma excelente de estabelecer diálogo entre compositores, músicos e audiência são os ensaios abertos (as primeiras leituras), durante as quais podem ser discutidas as questões da composição e da interpretação. "Assistir ao processo de ensaiar para mim, enquanto compositora, é uma grande experiência (…) uma experiência única"[5], enfatiza Andreia Pinto-Correia. "É um dos aspectos mais importantes que um compositor pode retirar dum grupo como este. Até é um grande desejo que pode ter, que é espreitar o som da sua música, abrir as pequenas janelas em relação ao som que está a imaginar ou a escrever, mas também perceber algumas coisas que têm a ver com aprendizagem"[6], acrescenta José Júlio Lopes. Os ensaios abertos dão também uma oportunidade aos públicos para perceberem melhor o processo criativo duma obra da música contemporânea. No ano do aniversário a OrchestrUtopica decidiu apostar nas novas gerações de compositores portugueses apresentando desta maneira a sua filosofia: "Simbolicamente era preciso explicitar ainda mais os fundamentos da existência deste projecto – a orquestra é um instrumento para compositores"[7], sublinha José Júlio Lopes. No primeiro concerto do aniversário,"Futuros 2.2" (o 101º concerto da orquestra), que teve lugar no dia 25 de Março no Centro Cultural de Belém, os músicos da OrchestrUtopica apresentaram obras de Andreia Pinto-Correia, António Breitenfeld Sá Dantas, Filipe Esteves, João Godinho e Patrício da Silva. Nos dias 8, 10 e 12 de Julho no CCB a orquestra vai interpretar a nova ópera de Alexandre Delgado, "A Raínha Louca", que foi criada a partir duma peça de Miguel Rovisco.

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Vítor Rua, “Arbeit French Freis” (2004) “This Is Not a Concert” António Victorino D’Almeida Decateto nº1, op. 138 1 Fragmento duma entrevista a José Júlio Lopes e Andreia Pinto-Correia conduzida por Manuela Paraíso no programa Na Outra Margem 23.03.2011 2 Ibidem ="ftn.id394062" href="#id394062">3 Andreia Pinto-Correia no mic.pt 4 Fragmento duma entrevista a José Júlio Lopes e Andreia Pinto-Correia conduzida por Manuela Paraíso no programa Na Outra Margem 23.03.2011 5 Ibidem e="ftn.id394062" href="#id394062">6 Ibidem e="ftn.id394062" href="#id394062">7 Ibidem

 

 

 

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