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Ricardo Ribeiro


“Agora escrevo com muito mais facilidade.”[1]

Ricardo Ribeiro nasceu em Aveiro a 30 de Janeiro de 1971 e fez a sua formação musical (saxofone e canto) no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, na mesma cidade. O seu interesse pela música foi-lhe suscitado desde tenra idade. Aos sete anos, por iniciativa do seu avô paterno, começou a ter aulas particulares de formação musical e piano com a professora Rosa da Silva Matos, que também era sua familiar e que, posteriormente, o incentivou a ir para o Conservatório. O seu primeiro contacto com a composição fez-se através do compositor Jorge Peixinho, cuja dimensão criativa o marcou profundamente. Após a conclusão do Curso de Composição na Escola Superior de Música de Lisboa em 1996, sob a orientação de Christopher Bochmann e António Pinho Vargas, realizou, nos dois anos subsequentes, em Itália, o Curso de Alto Perfezionamento Musicale (Composizione), coordenado por Franco Donatoni, obtendo o grau de Mestre em composição. Entre 1998 e 2002, prosseguiu o seu trabalho de composição e investigação, em Paris, com Emmanuel Nunes, que surge, desde então, como influência determinante no seu percurso criativo. Participou ainda em diferentes cursos dirigidos pelos compositores Magnus Lindberg, Philippe Manoury, Tristan Murail, Salvatore Sciarrino, Jonathan Harvey, Brian Ferneyhough, entre outros. Fazendo referência às palavras do compositor: “Após a conclusão do curso académico, tenho tido o grato prazer de frequentar seminários/cursos regidos por indiscutíveis mestres da composição europeia: a sensualidade e o humor peculiares de Donatoni, o universo criativo (…) de Emmanuel Nunes e a maestria tímbrico-harmónica de Tristan Murail têm sido referências valiosas para o meu esforço de atingir voz própria com o mínimo de consistência.”[2] Em 2003 Ricardo Ribeiro obteve na Universidade de Nice-Sophia Antipolis, sob a orientação de Antoine Bonnet, o grau de Mestre em “Esthétique et Pratique des Arts”. Com o mesmo orientador prepara uma Tese de Doutoramento intitulada “Dimensions complémentaires constitutives du temps”. Ao longo do seu percurso artístico e académico, foram-lhe concedidas diferentes bolsas, das quais se destacam a Bolsa de Aperfeiçoamento Artístico da Fundação Calouste Gulbenkian (1997 a 2001) e a Bolsa de Doutoramento da F.C.T. As suas obras têm sido encomendadas por diversas instituições europeias e dirigidas por maestros como Beat Furrer, Guillaume Bourgogne, Pedro Neves, entre outros.

2002 - 2009 Libertação da complexidade...

Durante sete anos, Ricardo Ribeiro praticamente deixou de compor, procurando novas abordagens à sua música e ao processo criativo. Das obras anteriores a 2002, muitas foram, por decisão do compositor, retiradas do seu catálogo após execução pública. “Se é para fazer uma revisão, faz-se de novo; e também não tenho problema em dizer: «fiz lixo, (...) pode ficar retirada do catálogo.» [3] No dia 5 de Setembro de 2002 a Aarhus Sinfonietta estreou a sua “Composition nº 2” para orquestra de câmara, que procura ser um momento breve que se alarga através de uma multiplicidade de gestos. “O momento que é esta peça nasce de uma primeira experiência do compositor com a técnica espectral, não em aglomerados sonoros, mas em ataques, linhas, cruzamentos, gestos individuais e conjuntos – surpresas de encontros inesperados”, pode ler-se na resenha biográfica do site da Fundação Calouste Gulbenkian. Até 2002 as preocupações de Ricardo Ribeiro “prendiam-se mais com certas questões como a complexidade” [4]– o compositor fascinou-se principalmente pelas questões contrapontísticas e existia nele a preocupação de perfeição: “(...) em 2002 a problemática consistia no excesso de notas que eu usava. Tentei libertar-me...”, explica Ricardo Ribeiro. “Depois descobri um provérbio chinês que diz: se se afiar uma faca constantemente fica-se sem faca. O Emmanuel Nunes debatia-se comigo: «não podes! Tens de parar de ter ideias! Tens de parar de polir! Tens de escrever mais!» Estar continuamente a afiar a faca até se atingir um gume perfeito, é um disparate; Quando dás por ela, acabou-se a faca. O ideal é a faca estar afiada, não é estar a afiá-la eternamente.” [5]

2009 - ... ”Tento dizer o máximo com o mínimo...”

Sete anos passados, Ricardo Ribeiro afastou-se da complexidade e densidade que caracterizavam a sua obra: “Precisei de sete anos para chegar à conclusão de que o que hoje é importante para mim é ter ideias simples e aplicá-las escrupulosamente.” Na peça intitulada “Intensités” escrita ainda em 2001, revista em 2006 e reabilitada em 2009, a electrónica “já funciona, não como contraponto, mas como um véu.” Numa obra mais recente, “In Nuce” (2011), o compositor reduziu o material musical, a matéria prima: “mesmo reduzindo o material, consigo escrever obras de maior duração com menos matéria. Há sete ou oito anos atrás, seria impensável escrever esta obra porque a consideraria demasiado simples (demasiado repetitiva)...”[6]

Actualmente na sua música Ricardo Ribeiro utiliza elementos como repetição e “articulação da matéria” aproximando-se neste sentido de compositores como Beat Furer ou Pierluigi Billone. Por um lado, a sua música nasce num contexto “histórico, social e cultural”, mas por outro “toda a obra de arte produz um espaço e um tempo que lhe são próprios e que têm em si mesmos elementos que caracterizam um determinado período. Não só assimilam o que está à sua volta como deixam marcas dessa assimilação, dessa transformação e desses elementos.” [7]

O compositor também dá muito valor à investigação e à procura de novos valores na música. “Hoje em dia (...) aceito tudo o que faço. Antes tinha muitas inquietações: «ah isto é lixo, fica ali na prateleira do lixo». Agora aceito que as obras não são todas iguais: há umas que são mais felizes, que correm melhor, outras que se afastam mais do sonho original, mas que aceito de igual modo. Ao fim de sete anos, não me incomoda se esta obra é uma obra menor – é menor, não faz mal.” [8] Lista de Obra

Partituras mic.pt 1 Entrevista a Ricardo Ribeiro conduzida por Miguel Azguime brevemente disponível em mic.pt (Parede 2011) 2 Sérgio Azevedo, "A Invenção dos Sons. Uma Panorâmica da Composição em Portugal Hoje", Editorial Caminho, Lisboa 1998, p. 530 3 Entrevista a Ricardo Ribeiro conduzida por Miguel Azguime brevemente disponível em mic.pt (Parede 2011) 4 Ibidem 5 Ibidem 6 Ibidem 7 Ibidem 8 Ibidem

 

 

 

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