Compositor e intérprete, com raizes e influências estendidas entre a cultura alentejana, o Alto Minho e a música de José Afonso - Amílcar Vasques-Dias está Em Foco no MIC.PT em janeiro.
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Categoria Musical Música de câmara (de 2 a 8 instrumentos)
Instrumentação Sintética Soprano e Ensemble Instrumental
Estreia
Data 1981/May/28
Intérpretes
Grupo de Música Contemporânea de Lisboa:
Maria João Serrão (soprano), Carlos Franco (flauta), Paulo Brandão (trompa), Lopes e Silva (guitarra), Clotilde Rosa (harpa)
Jorge Peixinho (direcção)
Entidade/Evento 5ºs Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea
Local Fundação Calouste Gulbenkian - Grande Auditório
Localidade Lisboa
País Portugal
Texto
Autor do Texto Joana Ruas
Título do Poema ou Texto Primavera e Sono
Letra no morno mar placentário
jazem grandes folhas calcárias
envoltas na fosforescência rendilhada da pele
respiram as rosas da geleia incolor
atravessa a opacidade das grandes horas de bronze
o som táctil
algas cor de lodo
anémonas de crinas de sal
penetra os tímpanos da pele
a eclosão atómica dos óvulos
com o seu odor de natas e de conchas
percute a espessura líquida do tambor
em ondas redondas
o turbilhão de múltiplos sóis celulares
coroados de espuma de coral
em láctea lucidez emersa
abrem-se as íris azuis
à difusa fronteira do espaço em redor
corpo placentário
corpo dos corpos cores da cor
não cabeça pés
esférica esfericidade da esfera mãe
onde lentos os seus passos se dilatam
rosa cinzento amarelo
nuvens tombando da brisa primaveril
rosaluzem ondulecem amarelucilam
as caudas batendo no espaço aquário
VIBRAÇÃO
som borbulhante som fugaz som veloz som isoédrico
sons cruzam sons
tempestade caótica de sons
sons polidos pelas limalhas de outros sons
VIVACIDADE VELOCIDADE
ritmo da esfera
chuva cósmica de palavras mudas
vozes sobem vozes descem
baloiço de vozes
faixas sonoras cortinas sonoras tapetes rolantes
vozes insulares
harmonia dissonante das palavras de amor
íntima reverberação do som
COR
nada sabendo dos labirintos do fecundo
balança a cabeça calva de génio insonte
erguendo a mão às ruidosas cores que nela planam
na mão prende o invisível fio que a fecha
a bondade fálica do seu corpo sobre a mão estende
e na paisagem iluminada do sono adormece
A MINHA INFÂNCIA É UM HORIZONTE PINTADO
COM ALTAS ERVAS E UMBIGOS DE CERA
UM REINO DE EXÍLIO ENTRE DOIS AFLUENTES DE SILÊNCIO
ÉCRAN ONDE A MEMÓRIA PROJECTA
IMAGENS CINÉTICAS
NITIDAZUL
ser adulto é aprender
a pisar o nosso exíguo terreno
o peso dos olhares e dos limites
a unidade estática do céu
os terraços fluviais do amor
o corpo como uma casa
ATRAVÉS . DA APARENTE . DESORDEM .
DO DISCURSO . BUSCO . A SIMETRIA .
DAS ESTAÇÕES . VIVIDAS . PELA ESCRITA .
TOMO . TELEGRAFICAMENTE . A DISTÂNCIA .
ENCONTREI . PELO PREÇO . DA BUSCA .
E DA FINALIDADE . A ARQUITECTURA MUSICAL .
DA VIDA . A ESTRANHA NITIDEZ DO UNIVERSO .
Notas Sobre a Obra
Primavera e Sono, composto em 1981 sobre poema de Joana Ruas, destina-se a soprano (dobrando com metalofone e flexotone), flauta, trompa (com chicote e gong pequeno), guitarra (com crótalos e prato suspenso) e harpa.
"Quando há cerca de um ano tomei conhecimento do poema Primavera e Sono através da autora, logo me interessei a adaptá-lo a uma futura obra. A princípio pareceu-me que o poema se prestava a uma leitura fácil do ponto de vista musical. Porém, quando o abordei mais profundamente, logo constatei que, devido aos cambiantes que o texto me mostrava, a abordagem tinha de ser cuidadosa devido à imensa mutação de imagens. Parti por fim, e depois de várias tentativas, para um processo no qual o aspecto formal foi submetido à evolução do processo de composição, ou seja, a forma criou-se ao longo da escrita. Verifiquei que o círculo se adaptava perfeitamente ao resultado sonoro que surgia, e assim é assumido entre os instrumentistas, tendo como centro a soprano. No ponto de vista de realização sonora, parti da estrutura de uma escala polarista (tónica no centro) imaginada por meu pai, José Domingos Brandão, a partir dos modos que influenciam a música popular portuguesa. Fi-lo com a intenção de tentar dar-lhe uma roupagem nova. Daí, tê-la indo deformando ao longo da obra até mostrar nova personalidade e aspectos interessantes que se misturam com a ideia de atonalidade."
Paulo Brandão
Na relação soprano/instrumentos, aquela domina os outros, transmitindo-lhes ao longo da execução as instruções que considera necessárias, que podem inclusive ser no sentido da não-intervenção de qualquer deles.
Circulação
Obra
Tipo
Data
Entidade/Evento
Local
Localidade
País
Intérpretes
Observações
Inv Row
Primavera e Sono
Estreia
1981/May/28
5ºs Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea
Fundação Calouste Gulbenkian - Grande Auditório
Lisboa
Portugal
Grupo de Música Contemporânea de Lisboa:
Maria João Serrão (soprano), Carlos Franco (flauta), Paulo Brandão (trompa), Lopes e Silva (guitarra), Clotilde Rosa (harpa)
Jorge Peixinho (direcção)