Nesta peça cada momento do desenrolar procura, por um lado, referir-se ao(s) instante(s) imediatamente antes decorrido(s), tomando-o(s), assim como também a si próprio, em consideração, para modelar o consecutivo desenvolvimento do gesto musical (construir uma "narrativa"). Por outro lado, e ao mesmo tempo, cada momento estabelece ainda frequentemente relações privilegiadas com situações características, já passadas ou que aparecerão mais tarde, nomeadamente, entre outras, com certas "ambiências" motívico-harmónicas, ou com as aparições de certas "entidades" do material de base, estruturalmente importantes.
Na medida em que este tipo de procedimento estabelece relações entre momentos temporais diversos – pontos diferentes no discurso, ou ainda vários níveis de profundidade temporal na memória – são geradas muitas vezes múltiplas significações referenciais possíveis, a partir de cada "membro" do discurso musical, nesta constelação de interrelações cruzadas.
Para este efeito não existe nesta peça nenhuma estrutura rígida ou esquema temporal fixo, que determine as durações ou proporções temporais para os diferentes acontecimentos – ou para as várias aparições de elementos semelhantes – mas sim, e apenas, certas ideias estruturais e formais que concedem à peça a sua unidade, que determinam a organização da forma e o desenvolvimento do discurso.
Ao nível das relações temporalmente próximas, a interacção e o carácter de "reiteração" – sobretudo de certas notas – na sucessão das acções musicais, é bastante reforçado por um trabalho de proliferação de alturas, efectuado com base no desenvolvimento de células melódicas muito pequenas.
O uso frequente do terceiro pedal (pedal "sostenuto") tem como objectivos principais criar uma polifonia musical mais complexa ou então um maior refinamento da qualidade acústica das ressonâncias – ou dos próprios acontecimentos musicais. Este carácter sonoro especial e in-habitual – por exemplo, quando ficam a ressoar apenas as notas que foram tocadas, mesmo que estas estejam bastante dispersas na tessitura do piano – é substancialmente diferente da utilização habitual do pedal direito. Nesta peça foi criada intencionalmente a possibilidade de "comparação" destas diferentes situações de ressonância sonora – por exemplo, através da sua disposição lado a lado.
O desenvolvimento da sonoridade (das ressonâncias) foi modelado, ao longo de toda a peça, através da organização de uma "escala" de diferentes situações características, como por exemplo:
– nenhuma nota mantida "tenuta";
– pedal "sostenuto" levantando os abafadores de notas que não são tocadas (excitação de harmónicos destas cordas, provocada pelas notas tocadas noutros registos);
– apenas algumas das notas tocadas são mantidas com alguns dedos;
– pedal "sostenuto" mantendo apenas algumas das notas tocadas, numa posição mais ou menos dispersa no registo sonoro;
– combinação destas duas últimas situações;
– pedal "sostenuto" mantendo todas as notas tocadas (ressonância selectiva);
– pedal direito.
João Rafael
Circulação
Obra
Tipo
Data
Entidade/Evento
Local
Localidade
País
Intérpretes
Observações
Inv Row
Réitérations
Estreia da Revisão
1994/Dec/19
Portrait-Konzert
Musikhochschule - Konzertsaal
Freiburg im Breisgau
Alemanha
Manfred Kratzer (piano)
Observações
Estreia da revisão de 1991
Estreia da revisão de 1991
Réitérations
Estreia
1990/Feb/05
Horizonte Konzerte - Junge Komponisten
Musikhochschule
Freiburg im Breisgau
Alemanha
Manfred Kratzer (piano)
Observações
Estreia da revisão de 1989
Estreia da revisão de 1989
Réitérations
Estreia da Revisão
1990/May/18
Neue Musik Reihe
Hochschule für Musik
Colónia
Alemanha
Manfred Kratzer (piano)
Observações
Estreia da revisão de 1990
Estreia da revisão de 1990
Réitérations
Execução
2002/Feb/10
Centro Cultural de Belém / Emmanuel Nunes, uma retrospectiva
