Canções do Mar
01 - Dormem na Praia...
02 - Liberdade
03 - Loa II
04 - Meditação
05 - O Mar Amado
Canções do Amanhecer
06 - Oração da Manhã
07 - Poema Sobre um Poema de Eugénio de Andrade
08 - O Nome Lírico
09 - Entre Duas Folhas
Canções da Morte
10 - Quotidiano
11 - Inscrição
12 - Epitáfio
13 - Certa Conditio Moriendi
14 - Memória Amada
15 - No Verbo Era a Morte
Canções da Noite
16 - Loa IV
17 - Nocturno da Água
Canções Satíricas
18 - Limite
19 - O Real Aparente
20 - Hino dos Cocos
Autor do Texto Arnaldo Saraiva
Título do Poema ou Texto Limite
Título da Publicação In
Ano 1983
Letra porque haveria o verso de acabar aqui
e não aqui
e não aqui
e não aqui
e não
em ti
Observações
Livro editado pelo autor (Porto)
Autor do Texto Arnaldo Saraiva
Título do Poema ou Texto O Real Aparente
Título da Publicação In
Ano 1983
Letra A Ordem que vês é a Menor
que outra sub
reptícia
mente conta
mina
mas a ordem maior não é nenhuma
roda inexorável da desordem
suporte da morte
insuportável
Observações
Livro editado pelo autor (Porto)
Autor do Texto Sophia de Mello Breyner Andresen
Título do Poema ou Texto Dormem na Praia...
Título da Publicação Coral
Ano 1950
Letra Dormem na praia os barcos pensadores
Imóveis mas abrindo
Os seus olhos de estátua
E a curva do seu bico
Rói a solidão.
Observações
Livro publicado pela Livraria Simões Lopes (Porto)
Autor do Texto Sophia de Mello Breyner Andresen
Título do Poema ou Texto Liberdade
Título da Publicação Mar Novo
Letra Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
Observações
Livro publicado pela Guimarães Editores (Lisboa)
Autor do Texto David Mourão-Ferreira
Título do Poema ou Texto Epitáfio
Título da Publicação A Arte de Amar
Ano 1967
Letra Cada sorriso teu agora só desperta
este remorso vil que a minha vida tem:
- A tua alma estava à minha espera, aberta...
Repousei no teu corpo e não fui mais além.
Observações
Livro publicado pela Guimarães Editores (Lisboa)
Autor do Texto David Mourão-Ferreira
Título do Poema ou Texto Quotidiano
Título da Publicação Matura Idade
Ano 1973
Letra Morre todas as noites uma águia
que só da minha vida se alimenta
Que mistura de cânhamo e de carne
no seu rasto de sangue me desvenda
Morre todas as noites no momento
em que volta a nascer de madrugada
E para lhe fugir ainda é cedo
E para celebrá-la já é tarde
Observações
Livro publicado pela Arcádia
Autor do Texto Eugénio de Andrade
Título do Poema ou Texto Entre Duas Folhas
Título da Publicação Obscuro Domínio
Ano 1971
Letra Encostado à noite
sobe de mim
a haste
que recusa a flor
e procura um pássaro
para amanhecer -
o trigo é alto,
e entre duas folhas
pode-se nascer.
Observações
Livro publicado pelas Edições Limiar
Autor do Texto Eugénio de Andrade
Título do Poema ou Texto Nocturno da Água
Título da Publicação Poesia e Prosa - 1940-1980
Ano 1981
Letra Pergunto se não morre esta secreta
música de tanto olhar a água,
pergunto se não arde
de alegria ou mágoa
este florir do ser na noite aberta.
Observações
Livro publicado pelas Edições Limiar
Autor do Texto Jorge de Sena
Título do Poema ou Texto Hino dos Cocos
Título da Publicação Sequências
Ano 1980
Letra Nós os Cocos
estreptococos
gonococos
pneumococos
estafilo-
cocos somos
não queremos
outra terra
Viva a América!
penicilinas
estreptomicinas
cloromicetinas
tetraciclinas
só nos são dadas
em doses pequenas
que vamos comendo
dançando e bebendo
felizes contentes.
Enquanto duramos
doentes pioram
drogas se gastam
doentes se operam
drogas se injectam
e nós prosperando
e os hospitais
e os médicos idem.
Somos amigos,
somos consócios,
somos con-cocos,
viva a América!
Observações
Livro publicado na colecção Círculo de Poesia da Moraes Editores
Autor do Texto Jorge de Sena
Título do Poema ou Texto Poema Sobre um Poema de Eugénio de Andrade
Título da Publicação Sequências
Ano 1980
Letra No teu rosto começa a madrugada
melodia
mar imenso
luz perfeita
distante mas segura
praia deserta horizontal e calma
abrindo como uma rosa
irrompenda da terra
sabor agreste
transparente e molhada
casta fresca e madura
rosto da minha alma.
Observações
Livro publicado na colecção Círculo de Poesia da Moraes Editores
Autor do Texto Ruy Belo
Título do Poema ou Texto Certa Conditio Moriendi
Título da Publicação Aquele Grande Rio Eufrates
Ano 1972
Letra Os poetas todos fitaram a morte
e reuniram-se depois numa assembleia de
riso para esquecer quem eram
Mas era a morte a única saída
Observações
Livro publicado na colecção Círculo de Poesia da Moraes Editores
Autor do Texto Ruy Belo
Título do Poema ou Texto Inscrição
Título da Publicação Aquele Grande Rio Eufrates
Ano 1972
Letra Na face dele havia risos vivos
Que lhe escorriam da alma para a boca
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Já cá náo está já não pisa estes prados
nem sobre ele se desdobra rubro este céu
Não há para ele palavra possível
Ele é como a camélia que morreu
Observações
Livro publicado na colecção Círculo de Poesia da Moraes Editores
Autor do Texto Vitorino Nemésio
Título do Poema ou Texto No Verbo Era a Morte
Título da Publicação O Verbo e a Morte
Ano 1959
Letra O silêncio acendeu seu seio forte
Com a luz das palavras preservadas:
Deixam-lhe anjos tão rápidas pegadas
Que dizê-las em som atrai a morte.
Lácteo clarão de agulha aceso a Norte
Aponta a regiões polares sonhadas.
Mas lá não rola o gelo. Asas sagradas
Planam, temendo que um curioso as corte.
Lá poisam como alma em fio de paz:
Seu sossego é o bico de um cuidado
Mais nosso do que delas, já partidas.
E uma pena somente n'água jaz
Da nossa esperança a coração calado,
Lívido lago inerte, foz das vidas.
Observações
Livro publicado na colecção Círculo de Poesia da Moraes Editores
Autor do Texto Mário Cesariny
Título do Poema ou Texto Loa II
Título da Publicação Burlescas, Teóricas e Sentimentais
Ano 1972
Letra Segue o veleiro rumos bem seguros.
A vela é branca e alta de comando.
Do outro lado do mar há um prolongamento
Que guarda qualquer coisa da brancura
E da serenidade clara e firme.
Há mesmo olhos cerrados que aguardam
E uma réstea de cais que está vazia.
Então uma gaivota quasi mais branca
Fica a boiar na água e é só ela.
Observações
Livro publicado na colecção Forma pela Editorial Presença (Lisboa)
Autor do Texto Mário Cesariny
Título do Poema ou Texto Loa IV
Título da Publicação Burlescas, Teóricas e Sentimentais
Ano 1972
Letra O moço pastor que ali vem cantar
a sombra que deu
aos montes que têm o rio a passar
outro azul no céu
Vê perto seu canto que ouvido se esconde
e é o que ele sabe
Mas longe na noite sem fim lhe responde
a mesma verdade
Que é a estação fria como está nos ramos
e na lua cheia;
pequeno cordeiro que há anos e anos
ele pastoreia.
Observações
Livro publicado na colecção Forma pela Editorial Presença (Lisboa)
Autor do Texto Fiama Hasse Pais Brandão
Título do Poema ou Texto O Mar Amado
Título da Publicação Barcas Novas
Ano 1967
Letra O que nele se move
é exactamente
o que amo
ou o que chamo
porque onda chamo
ao movimento
Cresce na tão igual
água
amado
por mim exactamente
amado
como se em vez de mar
fosse algo
mais
do que água
ou maior
Observações
Livro publicado pela Editora Ulisseia (Lisboa)
Autor do Texto Fiama Hasse Pais Brandão
Título do Poema ou Texto O Nome Lírico
Título da Publicação Barcas Novas
Ano 1967
Letra Esta manhã
hoje
é um nome
Nem mesmo amanheceu
nem o sol
a evoca
Uma palavra
palavra só
a ergue
Com um nome
amanhece
clareia
Não do sol
mas de quem
a nomeia
Observações
Livro publicado pela Editora Ulisseia (Lisboa)
Autor do Texto Ruy Cinatti
Título do Poema ou Texto Meditação
Título da Publicação O Livro do Nómada Meu Amigo
Ano 1958
Letra Tudo imaterial na praia rasa
Cheia de sol, ao fim da tarde.
Proa ao vento quebrada,
A vaga, entre rochedos, se ilumina.
É tudo imaterial, tudo neblina
Ténue que aos poucos arde,
Ao fim da tarde se desfaz, flutua;
Nave de outros tempos se insinua
E voo de ave desliza
Ao longe linha pura.
Tudo imaterial na praia rasa.
Aqui ninguém me vê: amo a ternura.
Observações
Livro publicado na colecção "Poesia e Verdade" pela Guimarães Editores (Lisboa)
Autor do Texto Ruy Cinatti
Título do Poema ou Texto Memória Amada
Título da Publicação O Livro do Nómada Meu Amigo
Ano 1958
Letra Vinham de longe em bandos. Acorriam
Jubilosos. Fantasias
De parques pluviosos
E, descendo
Os patos bravos lançados
Entre juncos, salgueiros e veados
De olhar límpido. lânguido. Tarde,
Muito tarde, uns olhos tais
Haviam de aparecer, sobressaltados
Entre enigmas e um floco de cabelos
Osculado pelo vento. Alegorias...
Do agora ou nunca e do momento
Definido. Trégua impensada,
Insuspeita, no perfume alado
Da página dobrada e abandonada
Dum livro interrompido. Sinto a dor fina,
Finalmente atravessada e suave,
- Quase saudade.
Observações
Livro publicado na colecção Poesia e Verdade pela Guimarães Editores (Lisboa)
Autor do Texto Vitorino Nemésio
Título do Poema ou Texto Oração da Manhã
Título da Publicação Canto de Véspera
Ano 1966
Letra Amanhece nos galos e na cor.
A pele desperta. Um sonho vai levado
Mas não é pena. O rasto dos duendes
Deixa inocente o homem acordado.
O cheiro do ar é como um anjo vivo:
Assim Deus adianta o seu amor.
Notarei o silêncio que me envolve
No sossego interior
Depois, como um menino leve, o dia
É novo para a gente o carregar
Da verdade ou do escuro que fazia.
(Aproveita a palavra que te veio
E reza de vagar.
Ajoelha.
Tudo isto vai passar).
Observações
Livro publicado na colecção Poesia e Verdade da Guimarães Editores (Lisboa)
As 20 peças para coro misto a 4 vozes "a cappella", sobre textos poéticos de 10 autores portugueses contemporâneos, foram compostas entre Março e Novembro de 1981, por encomenda da Secretaria de Estado da Cultura. Cada uma destas peças, que foram agrupadas em 5 ciclos numericamente desiguais, constitui um estudo ou ensaio de diferentes problemas técnicos ou formais de composição, sugeridos pelo conteúdo temático e pela estrutura dos respectivos textos literários.
A instabilidade tonal, os equívocos - Maior-menor e as interferências modais, preponderantes nas "Canções do Mar", são elementos geradores de um melodismo que, em diferentes pontos, se encontra desfazado da harmonização que lhe corresponderia. O modalismo é entendido numa acepção bastante vasta, compreendendo fragmentações, transformações progressivas e sobreposições de diferentes escalas.
Predominantemente harmónicas, as duas primeiras "Canções do Amanhecer" caracterizam-se por esquemas modulantes, realizados sob a forma de sucessivas transposições ascendentes de um modelo à 2ª ou à 3ª menores. Na 3ª Canção, com carácter de recitativo, as duas primeiras estrofes sobrepõem-se, em correspondência com a utilização simultânea de escalas tetratónicas diversas. A última peça, inteiramente diatónica, é construída sobre acordes formados de intervalos de 2ª a 7ª, em várias posições.
As "Canções da Morte", a frequente sobreposição de intervalos de 4ª, 5ª e 8ª, ornamentados com as suas alterações cromáticas, conduz a contexturas harmónicas descarnadas, por vezes envolvidas por uma escrita vincadamente heterofónica.
As duas "Canções da Noite" apresentam oposições de escalas e de estilos, acentuadas pela antifonia dos naipes e pela prossecução paralela de diferentes zonas do texto poético.
A descontinuidade do discurso, existente nos poemas das "Canções Satíricas", é musicalmente traduzida por distribuições espaciais pelos diversos grupos de vozes. Colagens e citações de Chopin ("Limite"), de uma canção infantil e do Jazz de Nova Orleães ("Hino dos Cocos"), assim como conotações musicais incongruentes ("O Real Aparente"), são outros elementos característicos destes trechos.
Filipe Pires