Solista(s) e Orq./Ens. e/ou Coro/Conjunto Vocal
com electroacústica sobre suporte
Instrumentação Sintética
2005
18' 00"
piano, orquestra e electrónica
piano, orquestra e electrónica
Título do documento Abyssus ascendens ad aeternum splendorem
Subtítulo O Abismo Ascendente para o Brilho Eterno
Data de Composição· 2005
Instrumentação Detalhada
Categoria Musical Solista(s) e Orq./Ens. e/ou Coro/Conjunto Vocal
com electroacústica sobre suporte
Instrumentação Sintética piano, orquestra e electrónica
Estreia
Data 2007/Nov/01
Intérpretes
Orquestra Gulbenkian
Ana Telles (piano)
David Alan Miller (direcção)
Local Fundação Calouste Gulbenkian - Grande Auditório
Localidade Lisboa
País Portugal
Notas Sobre a Obra
De acordo com certo misticismo hebraico, o Céu está dividido em sete reinos, hierarquicamente dispostos, e governados cada um pelo seu anjo. Os nomes destes reinos são respectivamente Shamayim, Raquia, Shehaqim, Machonon, Machon, Zebul, Araboth.
Araboth, o Sétimo Céu, governado pelo anjo Cassiel, é o mais sagrado dos sete Céus, albergando o Trono de Glória, que é servido pelos sete Arcanjos, sendo este o reino onde Deus habita. Debaixo do Trono de Glória está a Câmara de Guf (palavra hebraica para “corpo”). Esta câmara é a casa de todas as almas humanas ainda não nascidas. Diz a tradição folclórica hebraica que algumas aves podem ver as almas que emanam desta câmara e descem à terra, e por essa razão se explica o seu cantar de júbilo.
No Novo Testamento, Jesus Cristo refere-se ao lugar de conforto e felicidade após a morte, como sendo o Seio de Abrãao, também conhecido como o Limbo dos Ancestrais. Segundo algumas tradições hebraico-cristãs, é para esse lugar que a alma humana justa e merecedora vai após a morte, enquanto aguarda o Juízo Final.
O mecanismo que nos leva desde a descida do Guf até à existência terrena, e nos transporta finalmente ao Seio de Abrãao, após a morte, é a Fé. Esta é descrita por Simone Weil como sendo um Abismo Ascendente. É abismal porque puxa o ser humano implacavelmente para um estado de maior perfeição. É ascendente, pois o seu vórtice, o seu culminar, desagua numa esfera superior, o Seio de Abrãao, o Brilho Eterno.
São estes os motivos que inspiraram esta obra. O percurso da mesma inicia-se no etéreo, no impalpável. Posteriormente desce à terra e aí habita, mas sempre sem esquecer a ligação ao divino, ao transcendente, e às suas origens celestiais. Finalmente termina ascendendo ao esplendor do vórtice da Fé.
Este percurso que descrevi atrás foi-me sugerido por uma visita ao Convento dos Capuchos, em Sintra. O trajecto dentro deste convento leva-nos desde a singela entrada, passando pelos tristes e escuros altares da zona baixa, até um caminho ascendente onde encontramos múltiplas referências ao simbolismo da Cruz e da Fé. Finalmente terminamos no altar superior do Convento, quase no topo da montanha que o circunda, onde o ambiente sombrio das partes “terrenas” do mesmo é totalmente substituído pelo brilho e pela luz.