Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa
Música sem fronteiras. Portugal nas Jornadas Mundiais de Nova Música.
No ano em que decorrerá a 1ª edição portuguesa do festival ISCM World New Music Days, o MIC.PT apresenta uma reflexão histórica sobre a ISCM e a presença da música portuguesa nos WNMD.
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Categoria Musical Solista(s) e Orq./Ens. e/ou Coro/Conjunto Vocal
Instrumentação Sintética Piano e Orquestra de Cãmara
Observações à Instrumentação
As cordas podem ser todas a 1 (quinteto de cordas)
Estreia
Data 2008/May/22
Intérpretes
OrchestrUtopica:
Elsa Silva (piano)
Cesário Costa (direcção)
Entidade/Evento Centro Cultural de Belém / OrchestrUtopica - In Extremis
Local Centro Cultural de Belém - Pequeno Auditório
Localidade Lisboa
País Portugal
Notas Sobre a Obra
Elegia, op. 34, nascida inicialmente da ideia de compor uma peça In Memoriam aos mártires da liberdade, representa, no plano pessoal do compositor, uma meditação sobre a temática do sacrifício humano, e a ambivalência com que este se manifesta em contextos de violência nas sociedades ditas civilizadas. Na figura do mártir coexiste a vítima e o criminoso, um paradoxo sempre legível no relativismo de cada ponto de vista. Será possível o martírio voluntário? Haverá livre arbítrio num acto fanático? A ideia de inocência e o puro altruísmo perdem-se no entrelaçado confuso dos paradoxos político-religiosos e dos jogos de poder.
Esta ideia de ambivalência revela-se na obra através da utilização de dois tipos de materiais, evocativos de duas atmosferas distintas. Por um lado material mais consonante, como no tema lírico, doce e triste, quase uma canção de embalar, exposto no início pelo piano, e que remete para a ideia de um fundo matricial, algo de comum a todos os homens. Por outro lado, e por contraste, o uso de material onde predominam gestos mais violentos, ritmos obsessivos ou texturas mais indefinidas dominadas pela dissonância, sugerindo um estranhamento ou uma ausência de fundo, alusivos aos espaços do medo e da morte. A consonância e a dissonância aparecem, assim, como elementos de expressão. A utilização do acorde perfeito menor, por exemplo, ocorre num contexto não tonal, mais como um acorde-objecto, com a sua identidade e cor próprias, que possibilitam uma determinada intenção expressiva. O mesmo se poderá dizer para os clusters.
A unidade harmónica é conseguida através da derivação intervalar efectuada a partir de um acorde originário que assume uma função estrutural. O piano, apesar de ter uma função de solista, é tratado sem virtuosismo, mais como uma voz poética, como o instrumento de um canto materno.