Obra composta a convite de Pedro Amaral, para a Orquestra Metropolitana de Lisboa, no ano em que se celebram os 500 do início da célebre viagem de circum-navegação concebida e organizada por Fernão de Magalhães.
A ideia de escrever para orquestra e um solista pareceu-me refletir o dramatismo de um personagem complexo, taciturno e audaz, em diálogo com todo um conjunto de elementos, tanto humanos como naturais, ora hostis ora favoráveis.
Embora não se encontre na obra um desígnio meramente ilustrativo de algumas passagens desse périplo, alguns momentos da viagem de Magalhães são sugeridos pelos títulos dos quatro andamentos da peça: o prazer da navegação propriamente dita (1. Navigare), um motim a bordo (2. Ammutinamento), o Pacífico infinito e sufocante (3. Il Pacifico) e finalmente uma meditação sobre a morte do navegador (4. Epifania).
A escrita da obra não corresponde, talvez, a um modelo tradicional de concerto para violoncelo e orquestra, apesar da presença quase constante do violoncelo solista. Em lugar de um permanente antagonismo entre orquestra e solista, encontra-se aqui uma prevalência de texturas musicais comuns que tanto unem como separam as forças instrumentais em jogo. Daqui ressalta que o possível retrato do personagem e da sua peripécia seja mais humano e intimista do que apenas heróico.