Data 2022/Feb/04
Intérpretes
Jan Wierzba (direcção musical); Miguel Loureiro (encenação); João Telmo (figurinos); André Guedes (cenografia); Daniel Worm (desenho de luz); Ensemble MPMP; Catarina Molder (soprano,
Homem dos Sonhos); Christian Luján (barítono,
Narrador)
Local São Luiz Teatro Municipal
Localidade Lisboa
País Portugal
Observações
Outros espectáculos: 5 e 6 de Feveriero.
Autor do Texto Mário de Sá-Carneiro
Título do Poema ou Texto “O Homem dos Sonhos”
Título da Publicação “Céu em Fogo, Oito Novelas” (Assírio & Alvim, Lisboa)
Ano 1998
“O Homem dos Sonhos” é o título de uma novela escrita por Mário de Sá-Carneiro em 1915 (in
Céu em Fogo,
Oito Novelas, Assírio & Alvim, Lisboa, 1998). Esta novela foi escrita em Paris, cidade onde o poeta residiu nos últimos anos da sua breve vida e onde se viria a suicidar em 1916. É um texto que, contendo alguns elementos estéticos típicos do Simbolismo e do Futurismo, já prepara o Modernismo à sua própria maneira, tendo excercido uma poderosa influência sobre Fernando Pessoa. Sonhos, day-dreams e loucura formam alguns dos tópicos mais relevantes deste conjunto de histórias breves.
“O Homem dos Sonhos” conta-nos a história de um misterioso e elegante homem, supostamente russo, que Sá-Carneiro conhecera num “gorduroso” café parisiense. Este personagem bizarro passou toda uma noite descrevendo a sua vida secreta ao poeta português, explicando-lhe as razões da sua felicidade infinita: ele viajava em sonho a países de cores novas e indescritíveis, a cidades onde o gás que se respirava era composto por música, a países onde havia mais do que dois sexos, onde a alma era visível e o corpo justamente não… Enfim, ele transcendera o aborrecimento da sua fastidiosa vida através de um contínuo transe onírico:
“Pois bem! Eu consegui variar a existência – mas variá-la quotidianamente. Eu não tenho tudo só quanto existe – percebe? - ; eu tenho também tudo quanto não existe.”
E mais adiante:
“Eu dominei os sonhos. Sonho o que quero. Vivo o que quero.”
No final da novela, o poeta (ou “O Narrador”) discorre sobre o episódio e sobre o personagem sonhador. Quanto há nele de real ou de imaginário? De louco ou de são? Será ele
“uma figura de sonho?”. Temática visionária e contemporânea pelo que tem de evasivo, como que uma gigantesca metáfora da alienação, esta espécie de conto fascina pelo que tem de potencial dramático.
António Chagas Rosa