Para assinalar os 50 anos que José Luís Ferreira teria feito a 31 de agosto, em setembro este compositor, músico, professor e performador de música eletrónica, está Em Foco no MIC.PT.
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Música de câmara (de 2 a 8 instrumentos)
com electroacústica sobre suporte
Instrumentação Sintética
2000
12' 00"
violino, clarinete, violoncelo, piano e electrónica
violino, clarinete, violoncelo, piano e electrónica
Título do documento Íris
Data de Composição· 2000
Instrumentação Detalhada
Categoria Musical Música de câmara (de 2 a 8 instrumentos)
com electroacústica sobre suporte
Instrumentação Sintética violino, clarinete, violoncelo, piano e electrónica
Estreia
Data 2000/Jun
Intérpretes
Solistas da Orquestra Gulbenkian
Entidade/Evento Festival de Leiria
Localidade Leiria
País Portugal
Notas Sobre a Obra
Em 1988 iniciei a composição de um grupo de 7 obras inspiradas no livro do Apocalipse, no Novo Testamento. Este ciclo, originalmente pensado como sendo uma evocação, em termos musicais, das profecias contidas nesse livro, alargou o seu contexto para uma reflexão pessoal, transposta para música, sobre o mistério da criação artística e suas origens mais profundas. A palavra "Apocalipse" em si mesma traduz a ideia de "revelação", como qualquer coisa que não é criada pela mãos / mente humana, mas que é transmitida (revelada) pessoalmente por Deus.
Nas notas de programa de uma das outras peças deste ciclo, intitulada Visão, escrevi as seguintes considerações:
Considero que o acto de criação na sua essência, e tal como eu o concebo, não existe por si só mas é resultado de uma revelação que se processa através do nosso Espírito para a nossa Mente, e cujas origens não podemos determinar. Para o ateu, talvez ele seja considerado como o resultado de toda uma vivência em termos musicais, todo um conhecimento e compreensão de um passado e presente, um reflexo da experiência vivida. Para o crente, essa revelação vem de Deus. No entanto, há uma característica comum a ambos os casos, que é o facto que o ego do criador é de certa forma destruído por essa revelação, tendo de se submeter a ela.
A natureza e essência dessa revelação é de certa forma efémera. Ela pode vir durante um sonho, um momento de angústia ou alegria, um momento de reflexão, etc., e pode consistir num som, um gesto musical, um timbre, uma frase, uma imagem, etc.. Partindo daí, o criador, tem que dar corpo a esse momento, construindo ao redor dele todo um complexo retórico-musical, que justificam e fortalecem a sua essência.
Este ciclo ainda não está completo. As obras que o constituem, até ao momento, são as seguintes:
Patmos (ópera, composta em 1990)
Tessares (para orquestra, composta em 1991)
Visão, (para soprano, orquestra e electroacústica, composta em 1992)
Íris (para violino, clarinete, violoncelo, piano e electroacústica, composta em 2000)
(a quinta peça ainda não está composta)
Requiem, (para solistas, coro, orquestra e electroacústica, composta em 1994)
A Cidade Eterna (música electroacústica, composta em 1988)
Cada uma destas peças pretende abordar um aspecto da revelação. Patmos, que se baseia nos primeiros quatro capítulos do Livro de Apocalipse, refere a necessidade em termos de vivência espiritual dessa revelação. Tessares (em grego significa "quatro"), é baseada na visão das quatro criaturas ao redor do Trono de Deus, relatada no mesmo livro e refere-se, entre outras coisas, à universalidade da revelação. A Cidade Eterna, baseada nos últimos capítulos do livro refere-se à perfeição da revelação. Visão, que é baseada na profecia de Joel sobre a aproximação do fim do tempo, refere-se à intemporalidade da revelação. Requiem aponta para uma inevitável concretização física das ideias transmitidas durante a revelação, sejam elas de teor profético, ou meramente de carácter pessoal.
Íris, a quarta peça deste ciclo, baseia-se na visão do trono de Deus com o arco-íris (Íris é a palavra grega original) à sua volta, e os vinte e quatro anciãos em adoração, descrita pelo profeta, no capítulo 4 do Apocalipse. A sua temática espiritual diz respeito à beleza intrínseca que é transportada em cada revelação, e que é simbolizada pela descrição do profeta. O arco-íris em si é o fenómeno mais belo da Natureza, uma vez que possui um profundo significado espiritual, conforme descrito no Livro de Génesis (capítulo 9).
A obra em si é composta por vinte e quatro frases musicais, que se dividem em quatro grandes secções, que não são separadas, mas coexistem para formar um todo orgânico. Esta obra ainda tem outra característica importante: foi escrita para a mesma formação que o Quarteto para o Fim dos Tempos, de Messiaen. Sendo a temática de ambas as peças semelhante, não pude deixar de estabelecer relações musicais e estruturais entre ambas as obras. Assim, muitos dos gestos musicais contêm referências a diversas obras deste compositor, e a estrutura harmónica da obra baseia-se nas harmonias utilizadas por Messiaen no Quarteto para o Fim dos Tempos.
João Pedro Oliveira
Encomenda
Data 2000
Entidade Festival de Música de Leiria
Localidade Leiria
País Portugal
Prémios
Designação do Prémio Bourges International Electroacoustic Music Competition