Local Fundação Calouste Gulbenkian - Grande Auditório
Localidade Lisboa
País Portugal
Notas Sobre a Obra
Réflexes I, para fagote solo, foi composta nos primeiros dias de Dezembro de 1996. Toda a concepção da peça se encontra intimamente ligada às pesquisas desenvolvidas por Pascal Gallois em torno do fagote: pesquisas extraordinariamente fecundas, se tivermos em conta as novas capacidades técnicas e as cores inauditas deste instrumento reinventado, que conduziram directamente, entre outras obras, à criação de Sequenza XII de Luciano Berio. O grande desafio foi, para mim, a tentativa de integrar e articular todo este rico potencial morfológico - figuras sonoras possíveis que existem em si, a priori, e que me interessavam sob o ponto de vista do "idioma instrumental" característico - a partir de uma sintaxe necessariamente abstracta, mas que deveria encontrar-se intimamente ligada à própria natureza do material sonoro em jogo. Esta relação entre a linguagem engendrada e a realidade instrumental escolhida favoreceu, paradoxalmente, o desenvolvimento progressivo de uma dimensão extra-musical; uma dimensão quase "dramática" que o intérprete pode e deve explorar livremente. Sob o ponto de vista estritamente técnico, uma frase ascendente que percorre todo o instrumento, do seu extremo grave ao extremo agudo (e que aparece já quase no final da peça), forma o germe elementar, constituído de proporções abstractas - que podem potencialmente "incarnar" sob a forma de configurações rítmicas, de disposições melódicas, de inflexões dinâmicas, etc. - a partir do qual toda a matéria da peça foi deduzida.
Pedro Amaral
