01 - Canção Breve
02 - IV [Somos como árvores...]
03 - Ecos de Verão
04 - Conselho
05 - Retrato
Author of the Text Eugénio de Andrade
Title of Poem or Text Ecos de Verão
Title of Book or Collection Até Amanhã
Text Quando todo o brilho da cidade
me escorre pelas mãos, que já não são
mais que fugidios ecos de verão,
a música dos dias sem idade
subitamente como fonte ou ave
rompe dentro de mim – e nem eu sei,
neste rumor de tudo quanto amei,
se a luz madrugou ou chegou tarde.
Author of the Text Eugénio de Andrade
Title of Poem or Text Conselho
Title of Book or Collection Os Amantes Sem Dinheiro
Text Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.
Author of the Text Eugénio de Andrade
Title of Poem or Text IV [Somos como árvores...]
Title of Book or Collection As Mãos e os Frutos
Text Somos como árvores
só quando o desejo é morto.
Só então nos lembramos
que dezembro traz em si a primavera.
Só então, belos e despidos,
ficamos longamente à sua espera.
Author of the Text Eugénio de Andrade
Title of Poem or Text Retrato
Title of Book or Collection Até Amanhã
Text Tigre adormecido,
coração do dia.
Rosto semeado
de melancolia.
Noite transparente,
primavera escura.
Sombra rodeada
de mar e brancura.
Tigre adormecido.
Coração do dia.
Puro e violento
incêndio de alegria.
Author of the Text Eugénio de Andrade
Title of Poem or Text Canção Breve
Title of Book or Collection Os Amantes Sem Dinheiro
Text Tudo me prende à terra onde me dei:
o rio subitamente adolescente,
a luz tropeçando nas esquinas,
as areias onde ardi impaciente.
Tudo me prende do mesmo triste amor
que há em saber que a vida pouco dura,
e nela ponho a esperança e o calor
de uns dedos com restos de ternura.
Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria,
mas eu sou destas casas, destas ruas,
deste amor a escorrer melancolia.