Para assinalar o 60.º deste compositor, investigador e professor na ESML, cuja música se enquadra na vertente espectral - Carlos Marecos está Em Foco no MIC.PT em maio.
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Categoria Musical Música de câmara (de 2 a 8 instrumentos)
Instrumentação Sintética Sexteto de Cordas
Estreia
Data 1994/Nov
Intérpretes
Sextuor l'Artois
Local Igreja de São Domingos
Localidade Porto
País Portugal
Notas Sobre a Obra
À semelhança do seu titulo, a peça apresenta duas músicas diferentes, ora sob a forma de uma alternância, ora sob a forma de uma sobreposição. Existem de igual modo dois tempos, um parado e outro “estriado”, para utilizar um termo de Boulez, se bem que aqui seja assumido um vocabulário completamente diferente.Uma estrutura bipolar desenvolve-se atravéz da predominância de certos intervalos, tendendo para uma sobreposição: na última secção da peça, ouvem-se as duas músicas simultâneamente.
No título a palavra “Nocturno” tem as suas tradições na história da música, enquanto a palavra “Diurno” não. A combinação de ambas sugere predisposições psicológicas diferentes, mas interpermutáveis, do mesmo modo que o dia pode conter uma visão interior de um mundo escuríssimo e a noite desvendar momentos de surpreendente claridade.
A instrumentação não é estruturante da peça. A composição do sexteto de cordas foi abordada como se tratasse de um mesmo instrumento, ao contário, por exemplo, de uma partita para violino solo de Bach, a qual poderá conter polifonias extremamente complexas.
Na continuidade das minhas obras mais recentes, esta peça prossegue a minha reconquista de alguns elementos de música que conheço e que, por razões de ordem ideológica, tinha dificuldades em formalizar. Em Monodia, um quarteto de cordas, trabalhava uma simples sucessão horizontal de notas. Em 3 Quadros para Almada, para 10 instrumentos, usei ritmos “triviais”, (do modo que hoje, em música, um ritmo poderá ser considerado “trivial”. Uma colcheia com ponto semi-colcheia é hoje tão “trivial” como uma quiáltera de sete, das quais só tocam as duas primeiras e a quinta). O uso banaliza os objectos. Não há objectos superiores a outros. Em termos musicais, as condicionantes históricas exercem-se sobre as gramáticas e não sobre os objectos. Nesta peça, além de simples melodias e de ritmos “triviais”, decidi usar desde o início escalas diatónicas, por longos anos banidas das linguagens contemporâneas.
António Pinho Vargas (1994)