01 - Hommage à Schoenberg
02 - Ligeti Mio
03 - Liszt in Bellagio
Instrumentação Detalhada
Categoria Musical Solo
Instrumentação Sintética Piano
Estreia
Data ~ 2001
Intérpretes
Miguel Henriques (piano)
Local Teatro Gil Vicente
Localidade Coimbra
País Portugal
Notas Sobre a Obra
O grande poeta alemão Friedrich Hölderlin escreveu hinos - o que justifica o pouco imaginativo título - e fez traduções dos antigos gregos. Essas traduções foram criticadas na época como simplesmente mal feitas ou revelando total incompreensão dos textos originais. Actualmente,pelo contrário, pensa-se que o seu trabalho de tradutore/traditore produziu uma leitura profunda e original das obras "traduzidas" constituindo finalmente uma outra obra.
Quando me foi proposto por Paulo Silveira escrever uma peça para piano que, de alguma forma refletisse a temática do Festival de Coimbra de 2001 - Romantismo / modernismo - fiquei logo atraído pela eventual possibilidade de, na peça e através de relações complexas entre material, gesto e figura, poder criar um caleidoscópio de visões diversas do problema proposto. É óbvio que discordo do conceito de Adorno sobre material musical como "ideologia sedimentada", pelo menos na sua acepção de uso corrente, que não penetra, nem ao de leve, o pensamento daquele pessimista alemão amante de música. Mas independentemente do conceito de material, qualquer obra usa um ou vários.
Nesta obra trabalhei sobre um material serial - moderno, anos 20/30 - apresentado nos três mottos que antecedem as três peças, nas sua crueza de complementaridade cromática ( 6+ 6 sons). Os mottos evoluem eles próprios de saltos de intervalos para graus conjuntos. Mas nas 3 peças (1.Hommage à Schoenberg, 2.Ligeti Mio e 3.Liszt in Bellagio) figuras ou gestos retirados de obras particulares desses compositores em confronto dialéctico, diria, com o material hexacórdico dos 6 primeiros sons, não só permite ver como o material, por si só, não define um discurso, como se revela surpreendentemente apto a todo o tipo de transformações - o trabalho composicional - que permite àquele existir. O Coral final usa a predominância do intervalo de terceira maior que percorre toda a obra para lhe incluir uma ambiguidade tonal até aí inexistente.
Trabalhei por isso nessa fronteira da referência/tradução/traição, do "misreading" holderliniano, a que a minha natureza e o meu (nosso) tempo me impele. E, por falar em tempo, cito Mario Perliona: "O que se anuncia não é um tempo sem arte ou uma arte sem tempo, mas um tempo que contém todas as artes e uma arte que contém todos os tempos: uma contracção de todos os tempos num tempo único que possua todas as formas, sem que nenhuma delas pretenda impor a sua unicidade em nome da necessidade histórica, ou da lógica das alternâncias sazonais".
Post scriptum:
O título Liszt in Bellagio merce uma explicação particular. Estive 3 semanas na Bellagio Study and Conference Center da Fundação Rockefeller com uma bolsa. A Villa Serbelloni no Lago de Como tem uma história que remonta a Plínio, passa por Napoleão e pela execução de Mussolini. Para além disso pude ver a casa onde Franz Liszt escreveu a Sonata Fantasia "Aprés une lecture de Dante". Essa coincidência fortuita transformou-se em necessidade. A 3ª peça foi escrita em Bellagio.
António Pinho Vargas (18 de Junho de 2001)
Encomenda
Data 2001
Entidade Festival Internacional de Música de Coimbra